Inadimplência bate recorde e consumidor dá carro de graça para se livrar de dívida
A inadimplência recorde e o aperto dos bancos no crédito têm
causado algo além de concessionárias vazias. Muitos consumidores que, com o
incentivo do governo, compraram carro financiado nos últimos anos, chegam a um
verdadeiro limbo quando têm dificuldade em pagar as parcelas. Tentam vender o
veículo, mas, como o carro deprecia rápido e há grande oferta, o valor
conseguido na venda não é suficiente para quitar a dívida.
Para resolver o problema, muitos consumidores têm tentado uma
solução caseira: repassar o automóvel e a dívida a outra pessoa. Às vezes, no
desespero, até de graça.
Em janeiro, o paulistano Felipe Di Luccio percebeu que as
contas não fechavam. A faculdade, a parcela do apartamento recém-comprado e o
financiamento do carro consumiam boa parte do salário.
Para sair do vermelho, decidiu vender o Celta comprado sete
meses antes em 60 parcelas. 'Mas não dava. Receberia R$ 20 mil, insuficiente
para quitar a dívida de R$ 23,5 mil no banco. Então, decidi repassar a
dívida.'
O plano do estudante de arquitetura era simples. Como a venda
do carro não bastava para liquidar a dívida, queria se livrar do financiamento
com a entrega do carro para outra pessoa. 'Vai o carro, vai a dívida', resume.
Não há números oficiais, mas financeiras e lojas de automóveis reconhecem que a
iniciativa de Luccio tem se repetido cada vez mais no País.
Após a exuberância do crédito fácil e abundante dos últimos
anos, clientes com dificuldade financeira se desesperam ao perceber que não
basta vender o carro para quitar o empréstimo. Os que mais sofrem são aqueles
que optaram pelo financiamento de 100% do veículo, exatamente como Luccio.
Erro. 'Um carro pode depreciar até 40% em um ano. Em um crédito
de 60 meses, os pagamentos do primeiro ano amortizam 10% da dívida. Esse foi o
erro que cometemos em 2010 e 2011. Reduzimos muito o juro, facilitamos demais as
condições e, por isso, a inadimplência subiu', reconhece o presidente da
Associação Brasileira de Bancos (ABBC), Renato Oliva.
Em outras palavras: o erro foi permitir que o bem que garante o
crédito passasse a valer muito menos que a dívida. A partir daí, a entrega do
carro já não é suficiente para resolver o problema gerado por um calote.
O presidente da Associação dos Revendedores de Veículos do
Estado de São Paulo (Assovesp), George Chahade, lembra que o quadro fica ainda
mais preocupante em situações como a atualmente enfrentada pelo setor, de
inadimplência recorde.
'Aumenta a oferta de carros usados e, se o cliente tentar
vender, os preços oferecidos são mais baixos que o normal, o que potencializa
ainda mais o problema de quem tem dívida e obriga muitas pessoas a tentarem o
repasse', diz Chahade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário