quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Aperto no crédito afeta venda de carros

Pesquisa aponta que, de cada 100 empréstimos solicitados, apenas 38 receberam sinal verde dos bancos em agosto, ante 70 em 2010

SÃO PAULO - Concessionárias de veículos sentiram uma freada dos bancos na aprovação dos financiamentos de carro popular e automóvel usado, comprados pela nova classe média. De cada 100 empréstimos solicitados na primeira quinzena de agosto, 38 receberam sinal verde dos bancos. Em igual período de 2010, eram 70 empréstimos aprovados, aponta pesquisa da agência de varejo automotivo, MSantos, feita com 20 revendas da Grande São Paulo.

O maior rigor dos bancos na aprovação dos empréstimos piora a situação dos estoques do setor automobilístico, que já são afetados pelo avanço das importações, admite a Associação Nacional do Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). De acordo com a entidade, os estoques de veículos novos acumulados na cadeia automobilística são hoje 37 dias, enquanto o nível tido como normal varia entre 28 e 30 dias.

Na semana passada, as montadoras emendaram o feriado de 7 de setembro para reduzir o ritmo de produção. Sondagem industrial da Fundação Getúlio Vargas (FGV) mostrou que em agosto quase 25% das montadoras informaram que estavam com estoques excessivos.

"A nova classe média emergente que mantinha este mercado aquecido reduziu as compras porque obter financiamento está mais difícil", diz o economista Ayrton Fontes, da MSantos. Entre os motivos para essa retração, ele aponta as medidas macroprudenciais adotadas pelo governo no fim de 2010 e o aumento da inadimplência.

Na concessionária Palazzo, por exemplo, houve uma redução de 15% nas vendas de veículos novos e usados que custam até R$ 30 mil entre maio e julho deste ano ante igual período de 2010, conta o gerente comercial, André Luiz Alves. "Todos os bancos apertaram o crédito", observa o gerente de vendas da Itororó, Reginaldo Camargo. Ele conta que, em agosto, houve retração de vendas de 10% nos carros novos e de 15% nos usados. A queda ocorreu nos carros que custam até R$ 40 mil.

Jairo Rocha, gerente comercial da concessionária Alta, diz que agosto foi um mês atípico e que a revenda, nas três unidades, acumula 30 dias de estoques para carros novos e 40 dias para os usados. Os níveis considerados normais são 20 dias e 35 dias, respectivamente.

Exigências. Fontes, da MSantos, dá exemplos sobre a maior cautela dos bancos na aprovação do crédito. "Ao contrário do ano passado, a entrada exigida hoje varia entre 20% a 40% do valor do veículo nos financiamentos de longo prazo que chegam a 60 meses." Além disso, diz o economista, há mais critério na aprovação das fichas. Alves da Palazzo, por exemplo, conta que hoje é exigida comprovação de renda e pelo menos dois anos de permanência no emprego para aprovar financiamentos de longo prazo.

A razão para cautela decorre do avanço do calote. A inadimplência no Crédito Direto ao Consumidor (CDC) acima de 90 dias atingiu 4% em julho, com alta de 0,2 ponto porcentual em relação a junho, segundo Associação Nacional das Empresas Financeiras das Montadoras.

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