sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Sonegação - Dono de ilha confiscada

Dono da ilha é conhecido como ''Paulinho Metanol''

Apelido refere-se à venda de embalagens plásticas contaminadas para um produtor de cachaça, o que provocou 16 mortes

Tiago Décimo - O Estado de S.Paulo
SALVADOR
Rejane Carneiro/A Tarde-26/2/1990
Rejane Carneiro/A Tarde-26/2/1990
Prisão decretada. Paulo Sérgio, da Sasil, está no exterior


PERFIL
Paulo Sérgio Costa Pinto Cavalcanti, empresário investigado pela Operação Alquimia
O presidente da Sasil Industrial e Comercial de Petroquímicos Ltda., empresa apontada como o eixo do esquema de sonegação fiscal que teria desviado R$ 1 bilhão em impostos, Paulo Sérgio Costa Pinto Cavalcanti, ganhou fama entre os baianos em 1990, quando obteve da imprensa local o apelido de "Paulinho Metanol", em um episódio que resultou na morte de 16 pessoas.

Na época, Cavalcanti era diretor comercial da Sasil e a empresa vendeu a um comerciante de Santo Amaro, no Recôncavo Baiano, 19 bombonas (grandes embalagens plásticas usadas para armazenamento e transporte de produtos químicos) de álcool etílico. O comerciante, que produzia cachaça artesanal, usava os recipientes para preparar e armazenar a bebida.

Uma das embalagens, porém, estava contaminada com álcool metílico, também conhecido como metanol, material que, apesar de ter o mesmo aspecto e odor do álcool etílico, é extremamente tóxico para o consumo. O erro resultou, além das 16 mortes, em intoxicação de outras 20 pessoas - pelo menos duas ficaram cegas. O episódio ficou conhecido como "Tragédia de Santo Amaro". Nenhum envolvido foi punido até hoje.

Cavalcanti, um dos acusados de comandar o esquema de fraude fiscal, teve a prisão decretada pela Justiça, mas não foi localizado pelos agentes da Polícia Federal, da Receita Federal e do Ministério Público que, desde quarta-feira, cumprem 31 mandados de prisão, 129 de busca e apreensão e dezenas de ordens de sequestros de bens de 195 empresas e 62 pessoas.

Familiares de Paulo Sérgio são apontados junto com ele como líderes do esquema. Além dele e do irmão e sócio, Ismael César Cavalcanti Neto, também são investigados o filho de Paulo, Sérgio França Cavalcanti, a ex-mulher do empresário, Anita Maria França Cavalcanti, a esposa de Ismael, Maria Aparecida de Morais, e a matriarca da família, Aldair Montenegro Costa, mãe dos empresários.

Segundo familiares do empresário, ele está no exterior. O advogado de Cavalcanti, Gamil Föppel, afirma que sua recomendação ao cliente é que não se apresente até que "essa medida descabida" (a decretação de sua prisão temporária) seja revertida. "A operação foi desproporcional", afirma. "Não há motivo para decretar prisão temporária de um investigado por crime tributário."

Föppel diz que ainda não teve contato com o cliente, apenas com familiares, e avalia que o alcance da operação até o momento já é suficiente para que Cavalcanti possa ter a prisão temporária revertida. "Todo o patrimônio do meu cliente já foi apreendido", afirma.

Propaganda. Entre os itens sequestrados, está uma ilha de 20 hectares no meio da Baía de Todos os Santos. A notícia de que a ilha havia sido confiscada pela Receita Federal e a divulgação de fotos do lugar causou agitação no mercado imobiliário de Salvador - empresários do setor confirmaram terem sido procurados por potenciais compradores do terreno. "A divulgação da operação, como foi feita, funcionou como uma grande propaganda da ilha", diz uma conceituada corretora de imóveis de luxo de Salvador, que preferiu não se identificar.

Como os demais itens do patrimônio sequestrados pela Receita, porém, a ilha continua à disposição de Cavalcanti. Ele é impedido, apenas, de comercializar os bens confiscados.

Na ilha, ontem, apenas um funcionário do empresário foi localizado. Sem querer se identificar, ele passou boa parte do dia impedindo a atracação de barcos com pessoas desconhecidas. "Só com a autorização do dono", dizia às equipes de reportagem que tentavam se aproximar.

A sede e os escritórios da empresa Sasil em Salvador voltaram a funcionar normalmente ontem, após um dia de ocupação por policiais federais e fiscais da Receita Federal. Os funcionários abordados pela reportagem informaram que os trabalhos foram retomados e não quiseram comentar a operação./ COLABOROU MARCELO PORTELA

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