quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Entrevista - Fundador do Buscapé

 
Romero Rodrigues
Fundador do Buscapé

Entrevista de Agosto


No início de agosto, o grupo Buscapé, site pioneiro em comparação de preços na internet, anunciou os vencedores do concurso Sua Idéia Vale R$ 1 Milhão. A iniciativa selecionou quatro projetos de jovens empreendedores em que o Buscapé deverá investir R$ 300 mil, em troca de 30% das ações. Apostar no empreendedorismo é uma marca do engenheiro Romero Rodrigues, fundador do Buscapé. Mesmo antes do sucesso do site, no qual investiu R$ 300 em 1999, para dez anos depois negociar 91% por 342 milhões de dólares, Romero já se arriscava em pequenos negócios. Na entrevista a seguir, Romero revela um pouco de sua trajetória, suas ideias sobre empreendedorismo e das perspectivas para os negócios na internet.

“já vi ideias excelentes não darem certo, às vezes por ser cedo demais, às vezes por questão de execução. E eu já vi também outras, destinadas ao fracasso, explodirem porque alguém mudou alguma coisa”

Equipe Editorial: Na sua opinião, o que faz a diferença entre o sucesso e o fracasso de um empreendimento na internet?
Romero Rodrigues:
São muitas variáveis, mas eu já vi ideias excelentes não darem certo, às vezes por ser cedo demais, às vezes por questão de execução. E eu já vi também outras, destinadas ao fracasso, explodirem porque alguém mudou alguma coisa, caso da “trava” do Groupon, onde o desconto passa a valer se um número pré-definido de pessoas aderem à oferta. Quando o criador pôs essa “cereja” no bolo, as pessoas se viram obrigadas a divulgar a oferta aos seus amigos. Isso fez com que o próprio comprador virasse vendedor do produto. Então, às vezes, pequenas sacadas fazem a diferença. Eu adoraria saber qual é essa “uma coisinha”. Primeiro tem de começar a ser empreendedor, ter uma ideia e passar à execução.

Equipe Editorial: Quando os senhores criaram o Buscapé eram muito jovens, com pouco capital, pouca experiência e investiram em um ramo completamente novo. É possível apontar qual foi a maior dificuldade?
Romero Rodrigues:
A gente viveu uma dificuldade muito grande no começo do Buscapé, porque fomos a última empresa a receber investimentos antes do estouro da Nasdaq em 2000, que foi o que nos salvou. Mas, depois disso, veio uma fase de depressão muito grande na internet. Aquele momento foi muito difícil, os acionistas cogitavam fechar a empresa, a gente cortou salário de sócios durante um ano. Teve também um momento menos relacionado ao mercado que com a empresa. Há dois anos, o Buscapé cresceu muito rápido e passou a ter cerca de 300 colaboradores – hoje temos 910, mas sofremos, na época, com aquele crescimento porque a empresa foi se fragmentando. Com 30, com 100, com todos no mesmo ambiente, você nem percebe, mas é mais fácil transmitir a cultura da empresa, porque as pessoas convivem entre si, saem pra almoçar. Mas quando você chega a 300, a empresa começa a se despedaçar, e a gente tinha de reorganizá-la de uma forma que não a engessasse, do contrário ela começa a ficar burocrática, tudo tem de ter reuniões e processos. E a gente redesenhou tudo de modo a ter uma holding de unidades de negócios. É muito difícil mudar um organismo vivo.

Equipe Editorial: Antes do Buscapé, o senhor teve outras experiências como empreendedor. As tentativas valeram à pena? O que agregaram ao seu perfil empreendedor?
Romero Rodrigues:
Valeram muito a pena. Por exemplo: antes de ter o Buscapé, eu montei uma “software house”, que desenvolvia softwares ultracustomizados, como para um distribuidor de material hospitalar, já que os programas de “varejão” não contabilizavam preços abaixo de um centavo, nem ele tinha dinheiro para contratar uma SAP ou Oracle. Produzindo esses programas, acabamos descobrindo um problema de escala. Quantas fábricas de agulhas de seringa existem? Você fazia um programa para ela, mas não conseguia vender para outra empresa. Se eu ficar customizando, eu não faço mais nada, viro um prestador de serviço e não descolo a receita da despesa. Isso foi um grande aprendizado para o Buscapé, que demorou muito para ter a primeira receita, mas a gente sabia que, se desse certo, nosso custo seria praticamente fixo, mas se crescesse o número de clique, faturaríamos mais. A gente não precisa ter um número muito maior de funcionários, nem de servidores, e temos o mesmo espaço para entregar um milhão de cliques ou cem milhões. Se eu faturar cem vezes mais, a minha despesa é a mesma.  Aí você começa a ter uma margem grande.

Equipe Editorial: Hoje o senhor mantém uma participação minoritária no Buscapé. Pensa em se afastar definitivamente da gestão da empresa? É uma decisão difícil?
Romero Rodrigues:
Eu tenho uma participação menor, mas o que mais importa é o tesão. O empreendedor é apaixonado pelo seu negócio e enquanto for assim, eu vou continuar. Por outro lado, como todo pai, você quer que seu “filho” cresça e seja bem sucedido, até sair de casa. Um dia eu sei que o Buscapé vai “sair de casa”, mas eu nunca vou perder a paternidade dele.

Equipe Editorial: Se por algum motivo o Buscapé não obtivesse o sucesso que alcançou, o que o senhor imagina que estaria fazendo atualmente?
Romero Rodrigues:
Eu estaria empreendendo com certeza. O empreendedor tem essa raça, essa teimosia...

Equipe Editorial: Quais as novidades ou tendências que o senhor observa no mundo virtual para os próximos anos?
Romero Rodrigues:
Se eu soubesse, estaria deprimido! É difícil para mim “prever” o que eu estarei fazendo daqui a cinco anos. Eu já não consigo ficar fazendo as mesmas coisas por dois dias. Mas se eu tivesse certeza a respeito de uma ou outra tendência, eu não estaria no Buscapé, mas sim correndo atrás dessa coisa nova.

Agosto/2011
Entrevista concedida a equipe do PortalQualidade
Edição: Marcelo Barbosa
Direção: Raquel Boechat
Enfato Comunicação Empresarial
(51) 30.261.261
http://www.enfato.com.br/

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