quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Corrupção - Prisão de auditor e empresário - VALE A PENA LER

Justiça Federal condena empresário e auditor da Receita por corrupção.

O empresário mineiro Ricardo Rodrigues Nunes, sócio da Ricardo Eletro, uma das maiores redes varejistas do país, foi condenado em primeira instância a 3 anos e 4 meses de reclusão por corrupção ativa. Ele é acusado de ter pago propina a um auditor da Receita Federal do Brasil em São Paulo para que sua empresa não sofresse autuação fiscal. O auditor, Einar de Albuquerque Pismel Júnior, foi condenado a 4 anos de prisão e está preso desde setembro do ano passado. Da sentença da Justiça Federal ainda cabem recursos ao Tribunal Regional Federal (TRF) da 3ª Região e aos tribunais superiores.
A denúncia foi apresentada à Justiça em 5 de novembro de 2010 pelo Ministério Público Federal, que acusou Nunes e Albuquerque de terem cometido os delitos de corrupção ativa e corrupção passiva, respectivamente. No dia 13 de junho deste ano, o juiz Hélio Egydio Nogueira, da 9ª Vara Federal Criminal de São Paulo, condenou ambos por crime de corrupção.
De acordo com a sentença do juiz da primeira instância, Nunes teria cometido o delito previsto no parágrafo único do artigo 333 do Código Penal, que prevê pena de reclusão de 2 a 12 anos e multa para quem “oferecer ou prometer vantagem indevida a funcionário público, para determiná-lo a praticar, omitir ou retardar ato de ofício”. Já Albuquerque, segundo a sentença, teria cometido o delito previsto no parágrafo único do artigo 317 da lei, que prevê a mesma pena de reclusão para quem “solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem”.
Ricardo Nunes já recorreu da sentença ao TRF e responde ao processo em liberdade. Einar de Albuquerque também já recorreu ao tribunal e sua defesa ainda tenta obter um habeas corpus para libertá-lo – ele foi preso em flagrante pela Polícia Federal em 23 de setembro do ano passado com R$ 50 mil e US$ 4 mil em espécie ao sair da sede da Ricardo Eletro no bairro de Indianópolis, em São Paulo.
O advogado de Ricardo Nunes, o criminalista Nélio Machado, disse ao Valor que seu cliente vinha sendo pressionado a dar dinheiro para conseguir algo remoto, que não existia concretamente. “Não há um crime sem que haja um fato”, diz. “Para existir corrupção ativa é preciso ter a promessa de oferecimento de uma vantagem indevida, e não há prova de ato concreto.” Além disso, o criminalista cita outros argumentos para sustentar sua defesa de que, do ponto de vista jurídico, o episódio não teria consistência. “O processo descumpriu a regra constitucional do devido processo legal, pois não tivemos acesso a nenhuma investigação aberta contra o auditor, que seria o chefe de uma quadrilha que extorque empresários”, afirma. “Tenho absoluta confiança de que Ricardo é vítima de uma extorsão comum no país”, diz. Procurado pelo Valor, o advogado de Einar de Albuquerque, Carlos Eduardo de Oliveira Pereira, afirmou apenas que não se manifestaria em função da obrigação ética de sigilo que tem com seu cliente e que o processo está em segredo de justiça.
O processo aberto pelo Ministério Público Federal contra Ricardo Nunes e Einar de Albuquerque tramita em segredo de justiça na primeira instância da Justiça Federal em São Paulo, o que permite que seja consultado apenas pelos réus e seus advogados. No entanto, o Valor teve acesso aos autos de dois habeas corpus impetrados pela defesa de Albuquerque no TRF da 3ª Região. Esses recursos, que não correm em segredo de justiça – ou seja, estão disponíveis ao público e foram consultados pela reportagem no balcão de atendimento da subsecretaria da segunda turma do tribunal – contêm informações sobre o processo que corre na primeira instância e a sentença completa do juiz Hélio Egydio Nogueira, que condenou Nunes e Albuquerque. Outros quatro habeas corpus impetrados pela defesa de ambos no Supremo Tribunal Federal (STF) e no Superior Tribunal de Justiça (STJ) também contêm informações sobre o processo e suas decisões estão disponíveis para consulta pública nas páginas dos tribunais na internet.
O empresário Ricardo Nunes abriu sua primeira loja, de apenas 20 metros quadrados, em 1989. Hoje tem 260 filiais da Ricardo Eletro em nove Estados do país. Desde 2007 a rede, atualmente auditada pela Price, estuda abrir seu capital e vem se preparando para isso. No ano passado, a empresa uniu-se à rede baiana Insinuante e ambas formaram a Máquina de Vendas. Após duas novas fusões – com a mato-grossense City Lar e a pernambucana Eletro Shopping -, a Máquina se tornou a segunda maior rede de varejo do país, atrás apenas do Grupo Pão de Açúcar.
De acordo com a sentença da Justiça Federal, de 34 páginas, a Ricardo Eletro, pelo seu porte, é considerada um contribuinte sujeito a acompanhamento diferenciado pela Receita Federal. Após detectar indícios de irregularidades nas informações prestadas pela empresa ao fisco em 2004 – o valor gasto com a compra de mercadorias para revenda teria sido superior à receita declarada pela empresa no mesmo ano -, a Receita Federal programou uma fiscalização relativa a tributos federais na companhia. O mandado de fiscalização foi emitido em dezembro de 2007 a um auditor da equipe coordenada por Einar de Albuquerque.
Ainda conforme a sentença da Justiça Federal, durante a fiscalização, a superintendência da Receita em Belo Horizonte teria recebido uma denúncia anônima que relatava sonegação de tributos pela Ricardo Eletro por meio da contabilização das vendas superiores a R$ 400,00 pelo custo de aquisição das mercadorias. A denúncia foi encaminhada em junho de 2008 a Albuquerque, que, segundo o texto da decisão, “quedou inerte”. De acordo com o juiz Hélio Egydio Nogueira, a ação fiscal em relação ao conteúdo da denúncia anônima não prosperou porque Einar de Albuquerque teria feito um acordo com Ricardo Nunes.
Albuquerque e outros auditores fiscais lotados em São Paulo já vinham sendo investigados pela corregedoria-geral da Receita Federal diante de indícios de que seu patrimônio seria incompatível com seus salários. No caso de Albuquerque, a sentença do juiz afirma que ele teria omitido bens nas declarações de Imposto de Renda e que ele e sua esposa teriam adquirido diversos imóveis entre junho de 2007 e janeiro de 2010 por valores maiores do que os declarados ao fisco. Além disso, a movimentação financeira do auditor fiscal seria “inconciliável com a renda declarada”, segundo a decisão.
Diante disso, a Justiça autorizou a interceptação telefônica de Albuquerque. De acordo com a sentença, em 14 de setembro a escuta identificou o primeiro contato entre Nunes e o auditor. Após diversas ligações, ambos teriam combinado a entrega de “documentos” na sede da Ricardo Eletro em Indianópolis. Com a informação em mãos, a Polícia Federal prendeu Albuquerque em flagrante portando os valores em espécie. Conforme a sentença, em uma busca e apreensão na casa do auditor a polícia encontrou ainda R$ 109 mil, US$ 47.600 e € $ 110 mil, além de uma máquina de contar dinheiro. Procurada pelo Valor, a Receita Federal não se manifestou até o fechamento desta edição.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Vai sair de linha em 2019

Vai sair de linha!  Confira quais carros serão retirados do mercado em 2019 Listamos sete automóveis que deverão sair do mercado ou ganha...