segunda-feira, 25 de junho de 2012

A solução brasileira para a inflação funcionou primeiro fora do País

A solução brasileira para a inflação funcionou primeiro fora do País

Argentinos e israelenses se inspiraram nas ideias de Francisco Lopes e no Plano Larida, de Pérsio Arida e André Lara Resende, para antecipar ações que o Brasil adotaria quase uma década depois

Imagine-se na manhã de um sábado de 1986, indo à padaria comprar pãozinho, sem esquecer nenhuma das 19,965 bilhões de unidades de cruzado, a moeda recém-lançada pelo governo. Isso mesmo, a simples compra de um quilo de pão francês que você paga hoje em média R$ 7,26, segundo o Dieese, exigiria alguns bilhões em 86. A diferença unitária de moeda era fruto da vilã que por quase duas décadas fez do Brasil uma de suas principais vítimas, a inflação. “Há uma geração que não saberia hoje quanto dinheiro seria necessário para comprar um chiclete”, compara o professor da Ibmec-MG, Reginaldo Nogueira.

A inflação, o aumento generalizado de preços com a perda do poder de compra pelo consumidor, estacionou no País no final dos anos 1970, refletindo o controle excessivo do Estado ditatorial sobre a economia – incluindo trapalhadas técnicas como a criação de indexadores para corrigir automaticamente os contratos de longo prazo e o uso do protecionismo para corrigir déficits nas contas externas.

A estabilização viria em 1994, com a criação do real. Um controle que nasceu de um conjunto de propostas de economistas como Francisco Lopes, que em 1984 sugeriu o congelamento de preços como primeiro passo para controlar a escalada de preços, o chamado “choque heterodoxo”. E que ganhou corpo em estudos do núcleo de economia da PUC-RJ a partir daí, com destaque para a Proposta Larida, de Pérsio Arida e André Lara Resende, contrários ao congelamento de preços.

Argentinos saem na frente

As ideias brasileiras, contudo, ganharam corpo inicialmente fora do País. Mais especificamente na Argentina, depois que um grupo de economistas liderado por Guillermo Rozenwurcel passou pela PUC-RJ e levou as propostas de estabilização para o país vizinho, em meio aos debates sobre a criação do Mercado Comum do Sul, o Mercosul.

A Larida propunha o controle inflacionário a partir da adoção de um indexador econômico que garantisse oscilações de preço por períodos mais alongados, acompanhado de uma política cambial na qual a moeda local não perdesse valor ante o dólar.

Arida e Resende sugeriam a criação de uma moeda que serviria de âncora a partir de correção diária com base na variação mensal das Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional (ORTN), criada para corrigir os títulos da dívida pública sem absorção da inflação real. O modelo seria parcialmente adotado em 1994, com a implantação da Unidade Real de Valor (URV), que por quatro meses assumiu o papel de peça de transição monetária do cruzeiro real para o real.

Getty Images
Casa Rosada em Buenos Aires: proposta debatidas no Brasil foram base do Plano Austral na Argentina

A primeira investida nesse sentido foi feita em 15 de junho de 1985, quando o governo argentino anunciou o Plano Austral, que tinha como uma de suas metas o controle do déficit operacional do governo – ou seja, o objetivo de diminuir o gasto com o financiamento do setor público em relação ao Produto Interno Bruto (PIB), realizado a partir da emissão de moeda, o que gerava maior liquidez a partir do excesso de dinheiro circulante que em função da alta quantidade se tornava barato. Foi assim que o Banco Central da Argentina anunciou que deixaria de emitir moeda para cobrir déficits da Casa Rosada.

O resultado foi uma queda na participação do gasto operacional sobre o PIB de 10,8%, em 1984, para 7%, em 1985, e 4,3% em 1986. A redução surgiu como fruto do congelamento de preços, acompanhada do lançamento de uma nova moeda, o austral – substituto do peso argentino.

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