domingo, 3 de março de 2013

A história da professora que se correspondia com Drummond

A história da professora que se correspondia com Drummond

Helena Maria Balbinot Vicari, de 72 anos, guarda 60 cartas que trocou com o autor mineiro

 
A história da professora que se correspondia com Drummond Fernando Gomes/Agencia RBS
A professora, moradora de Guaporé, trocou cartas com o escritor durante 25 anos Foto: Fernando Gomes / Agencia RBS
Carlos André Moreira
 
Carlos Drummond de Andrade era um missivista intenso, mesmo para uma época em que escrever cartas era comum. Sua correspondência com Mário de Andrade foi editada em mais de 600 páginas. A com Cyro dos Anjos, em mais de 300. Em Guaporé, a 235 quilômetros de Porto Alegre, uma professora guarda 60 cartas – para ela, tão valiosas quanto. Helena Maria Balbinot Vicari, 72 anos, começou a se corresponder com Drummond de Andrade quando tinha 21 anos, em 1961 (o poeta estava chegando aos 60). Ela era aluna da escola normal em Guaporé e queria manifestar solidariedade diante de uma pedra recorrente no caminho do autor mineiro: a má vontade da crítica. – Uma professora comparou em um livro um poema da Cecília Meirelles e um do Drummond, para dizer que ela sim fazia poesia, e que ele provavelmente sumiria das vitrines das livrarias em alguns anos. Fiquei indignada e escrevi para ele que o achava o melhor, ainda que meus professores não concordassem – conta ela. Correspondente atencioso, Drummond respondeu, em mensagem datada de 16 de junho de 1961.  Agradecia as palavras gentis e enviava, atendendo ao pedido da leitora, um cartão de visitas autografado. De tempos em tempos, Helena retomava o contato e sempre recebia resposta – as cartas seguintes já falavam de uma maior aceitação de Drummond na escola (a professora havia mudado).  "Para um autor de minha geração, é interessante verificar como rapazes e môças aceitam a poesia chamada modernista, que foi tão combatida e mesmo ridicularizada pelos professores de ginásio, por aí além", comemorava o poeta em novembro de 1962, ao saber que Helena e os colegas haviam realizado uma dramatização do drummondiano Noite na Repartição. O contato foi sempre por escrito. Helena jamais conheceu o poeta, e só falou com ele por telefone uma única vez. A amizade epistolar durou até 1986 – um ano antes da morte dele. Helena mantinha Drummond informado de sua vida, seus progressos na escola normal, seu noivado e posterior casamento com Jurandir Vicari, o nascimento dos filhos, poemas que escrevera. Drummond sempre respondia, enviava versos, conselhos de alguém mais experiente (Drummond era quatro décadas mais velho). Mais do que um testemunho da amizade de Helena com Drummond, as cartas que ela mantém bem guardadas nas folhas de plástico de um classificador preto são indício de uma relação ainda mais duradoura.
A convivência de Helena com a poesia.

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