Wesley Batista, presidente da JBS, afirma que a companhia está "pouco focada em aquisições no momento"
Sete meses depois de assumir a presidência da JBS, Wesley Batista afirma que a companhia está ganhando eficiência e que a operação melhorou mesmo que isso ainda não apareça no valor de mercado da empresa de carnes. "Apesar de não ter se refletido no preço das ações ainda, como a gente espera que vá se refletir, quando olhamos a operação como um todo, achamos que está cada vez melhor", disse em entrevista ao Valor, na quarta-feira.
A discussão sobre o valor de mercado que não deslancha da companhia é tema recorrente entre analistas que acompanham o desempenho da JBS na bolsa. E Batista, que demonstra bastante autoconfiança no cargo, sabe disso. A cobrança gira em torno de como a empresa, na qual a BNDESPar tem participação de cerca de 32%, vai gerar caixa e reduzir sua alavancagem (relação entre dívida líquida e Ebitda), hoje em 3,2 vezes.
A JBS já disse que uma das medidas será cortar investimentos em 50% ano que vem, para algo na casa dos R$ 500 milhões.
No entanto, há mais a ser feito, segundo o presidente-executivo, como melhorar o que chama de "giro de estoque" e também o fluxo de contas a pagar e a receber da companhia. "Podemos fazer o mesmo carregando menos estoque, o que logicamente traz dinheiro para dentro do balanço e reduz endividamento", explica. Segundo ele, há espaço para reduzir o prazo das contas a receber em quatro a cinco dias em relação à media de hoje, de "30 e poucos dias". Outro ajuste na operação é ampliar, em número semelhante de dias, o prazo nas contas a pagar.
A empresa já vem tomando medidas para reduzir custos e ficar mais eficiente, como o remanejamento de operações anunciado no fim de agosto, com a suspensão de atividades em três unidades e a suspensão parcial em outras três, de um total de 35 unidades de bovinos que a empresa tem no Brasil.
Nos EUA, fechou, em agosto, a unidade de Dallas da Pilgrim's Pride, sua controlada, também para ganhar eficiência, e está reduzindo a produção de frango, já que a oferta total excede a demanda no mercado americano.
O presidente da JBS diz que a operação na Argentina - que vive altos e baixos por conta das restrições do governo local a exportações de carne bovina - está melhorando. "Não está às mil maravilhas, mas já esteve muito pior. Estamos equilibrando." De seis fábricas, três operam.
Com iniciativas para reduzir custos, estoques e melhorar o fluxo de caixa, a JBS espera que o preço de suas ações se recuperem e com elas seu valor de mercado, que fechou em R$ 12,385 bilhões ontem, bem abaixo do patrimônio líquido de R$ 21,419 bilhões (em 30 de junho deste ano).
Garantindo que a empresa está "pouco focada em aquisições no momento", Wesley Batista afirma que "lá atrás o mercado esperava a internacionalização e a consolidação [da JBS]. De um tempo para cá, espera que a empresa gere caixa e reduza dívidas e alavancagem". Ele assegura que a JBS irá entregar o que o mercado deseja e que isso irá se refletir no valor das ações da companhia, que voltarão "ao patamar que precisa ser".
Mas reconhece que o mercado quer ver "primeiro os resultados para depois precificar". Até por isso a transferência da dívida da JBS S.A para a JBS USA, medida tomada a partir do segundo trimestre para reduzir o custo e melhorar o perfil do endividamento da empresa, ainda não favoreceu as ações. "O mercado está aguardando ver os benefícios das mudanças para refletir nos preços."
Em sua avaliação, os resultados da medida começarão a ocorrer a partir do terceiro trimestre deste ano e mais acentuadamente do quarto trimestre em diante. Para pagar dívidas mais caras no Brasil, a empresa emitiu títulos de longo prazo em valor superior a US$ 2 bilhões por meio da JBS USA.
Os números recentes da JBS não têm conseguido agradar ao mercado, mas, de fato, o desempenho frágil das ações desde a abertura de capital em março de 2007 - recuo de 47,63%, segundo o Valor Data - indica certa reticência dos investidores em relação à companhia.
Operações como a recente conversão de debêntures no valor de R$ 3,5 bilhões em ações pelo BNDES, que elevaram a participação do banco de fomento no capital da companhia, seriam motivo da reserva de parte dos investidores, acreditam analistas do setor.
Para Batista, porém, o mercado "não se incomoda" com a participação do banco no capital da empresa. "O BNDES é um investidor como outro qualquer. Se o banco tivesse influência na administração da companhia, talvez incomodasse", considera.
Mas, afinal, por que o mercado tem pouca simpatia pela JBS? O empresário faz um mea-culpa e admite que a companhia precisa se comunicar melhor para afastar uma eventual imagem de arrogância. "Talvez precisemos nos comunicar melhor para que o mercado realmente nos conheça (...) Essa imagem de meio arrogante ou qualquer coisa desse gênero não é nossa realidade. Acho que o mercado nos titulou um pouco como aquela empresa que quer apertar o concorrente. Essa impressão não é verdadeira", garantiu.
Apesar de dizer que a JBS não está focada em aquisições no momento, o presidente da companhia admite que vai avaliar o grupo de ativos que a BRF-Brasil Foods colocou à venda como condição imposta pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) para sua criação. "Vou olhar. Não vou dizer que não vou olhar. (...) Mas se você perguntar se a JBS tem muito interesse nos ativos, provavelmente não." Ele disse não considerar uma troca de ativos numa operação com a BRF, hipótese levantada pela empresa para alienar os ativos. "Não vejo o que da JBS poderia ser trocado", argumenta.