GRAVATAÍ - Depois de pagar valores recordes de Participação nos
Lucros ou Resultados (PLR) em 2011, as montadoras não estão entrando em acordo
com os metalúrgicos neste ano. Com o argumento de perda de competitividade,
agravada também por aumentos de custos trabalhistas, as empresas resistem em
pagar aumentos salariais muito acima da inflação e de repetir montantes pagos
por PLR que chegaram a R$ 15 mil por funcionário.
Em estado de greve desde a semana passada, os trabalhadores da
General Motors de Gravataí, região metropolitana de Porto Alegre, prometem
aprovar o início da paralisação em assembleia marcada para esta segunda-feira,
7, caso a GM não apresente nova proposta que atenda às expectativas da
categoria.
'Vamos aguardar até o início da assembleia para avaliar
qualquer proposta que a montadora apresente', diz Edson Dorneles, diretor do
Sindicato dos Metalúrgicos de Gravataí. 'Se isso não ocorrer, o caminho será a
greve', ameaça o sindicalista.
O presidente da GM América do Sul, Jaime Ardila, reconhece que
o risco de greve é alto, mas alega que a montadora não tem flexibilidade para
negociações nas mesmas bases do ano passado, pois os custos precisam ser
controlados. 'Acho que os sindicatos ainda não perceberam a situação delicada da
falta de competitividade que a indústria vive atualmente e o risco que isso pode
representar para a produção local', afirma Ardila.
Com data-base para renovação do acordo coletivo em 1.º de
abril, os cerca de 2,2 mil metalúrgicos da fábrica gaúcha reivindicam reajuste
salarial de 10%, o que representa 4,79% acima da inflação, além de PLR de R$ 9
mil, em caso de êxito no alcance de 100% de metas a serem acertadas com a
empresa. Já a montadora oferece reajuste de 7% (aumento real de 1,93%) e PLR de
R$ 6,8 mil, pouco acima dos R$ 6,2 mil acertados no ano passado.
As dificuldades em Gravataí levaram a GM a adiar o início das
discussões sobre o pagamento da PLR na fábrica de São José dos Campos, interior
paulista. A primeira rodada de negociações está prevista para quarta-feira,
9.
'A luta será por uma PLR superior à de 2011, com pagamento em
maio', afirma Vivaldo Moreira, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São
José dos Campos. No ano passado, os trabalhadores receberam R$ 11,2 mil, após
forte mobilização.
No Paraná, os metalúrgicos da Volvo, de Curitiba, e Volkswagen,
de São José dos Pinhais, também querem PLR mais elevada que a do ano passado.
Apenas a Renault/Nissan, de São José dos Pinhais, já definiu, no acordo do ano
passado, o valor de 2012 e 2013. Este ano, será de R$ 15 mil, ante R$ 12 mil em
2011.
Na Volvo, os funcionários querem ampliar o valor em 20%, de R$
15 mil para R$ 18 mil. 'Iniciamos as negociações e as expectativas são boas',
diz Sérgio Butka, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos da Grande
Curitiba.
No caso da Volks, a situação parece mais complicada. O valor
da primeira parcela da PLR, de R$ 6.136, foi definido no acordo do ano passado.
O problema é o valor da segunda cota. Enquanto os sindicalistas prometem brigar
para que a soma das duas fique em R$ 15 mil, a montadora acena com R$ 12,5 mil,
valor já acertado com os metalúrgicos de São Bernardo do Campo, no ABC paulista,
e de Taubaté, no Vale do Paraíba (SP).
No ano passado, os 3,1 mil metalúrgicos da Volks no Paraná
levaram R$ 11,5 mil em PLR, após 37 dias de greve que custaram caro para a
montadora. Mas o troco veio rápido. No fim de março, a montadora anunciou que
vai priorizar as fábricas de Taubaté e de São Bernardo no plano de investimento
de R$ 8,7 bilhões previsto para o País até 2016. As duas fábricas vão se tornar
as mais modernas e competitivas do grupo, desbancando a do Paraná, inaugurada há
dez anos.
'Nos últimos anos, perdemos a competitividade no Paraná', diz
Thomas Schmall, presidente da Volkswagen do Brasil. 'Queremos investir lá
também, mas seguramos por causa da falta de competitividade. Vamos começar nova
rodada de negociação com o sindicato e espero resultado melhor que no ano
passado.'