terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Fabricantes de sacolas "verdes" reduzem custos e brigam por mercado milionário

Fabricantes de sacolas "verdes" reduzem custos e brigam por mercado milionário

Sacolas biodegradáveis mais baratas abrem espaço para supermercadistas terem lucro com fim da distribuição gratuíta em São Paulo a partir desta quarta

Yan Boechat, iG São Paulo



Foto: AE Ampliar
Cerca de 5,2 bilhões de sacolas plásticas são distribuídas em São Paulo todos os anos

Os fabricantes de sacolas plásticas andam vivendo dias de aparente indecisão. De um lado, gritam quase em uníssono pela voz de sua entidade de classe – a Abief – que o acordo entre os supermercados e o Estado de São Paulo é apenas um engodo à população, que tem como objetivo verdadeiro melhorar a imagem do governo e encher ainda mais os bolsos das grandes empresas que dominam o setor. Do outro, de forma bem mais silenciosa, essas mesmas empresas travam uma batalha para conquistar um mercado que promete ser crescente e lucrativo: o das sacolas plásticas biodegradáveis, eleitas por essas mesmas empresas como as inimigas número um do setor.

Feitas à imagem e à semelhança das sacolinhas tradicionais, as biodegradáveis, ou compostáveis, levam fibra natural em sua composição, em geral uma resina de amido de milho, o que lhe garantiria características menos poluentes. Pelo acordo entre a Associação Paulista dos Supermercados, a Apas, e o governo de São Paulo, elas serão as substitutas das sacolinhas tradicionais. Mas com a grande diferença de que serão cobradas pelos supermercados, e não distribuídas gratuitamente. O valor já está até definido: vai variar entre R$ 0,19 a R$ 0,25. “Será o preço de custo, até recomendamos os supermercados a colocar o valor da nota na parede”, diz João Carlos Galassi, presidente da APAS.

Essa é a promessa. Na prática, no entanto, pouca gente crê que as grandes redes varejistas irão abrir mão da possibilidade de ter lucro com a venda das sacolinhas biodegradáveis. E é por isso que a indústria de embalagens flexíveis anda tão alvoroçada nessas últimas semanas. Quase todas as grandes empresas do setor – algumas chegam a fabricar 300 milhões de sacolas tradicionais por mês – já iniciaram a produção das biodegradáveis. Apesar de praticamente nenhuma delas tocar no assunto de forma pública, todas estão correndo para reduzir os custos a fim de oferecer melhor preço aos supermercadistas. O presidente da Associação Brasileira da Indústria de Embalagens Flexíveis (Abief), Alfredo Schmitt, chega a afirmar que o custo dessas sacolas será de apenas R$ 0,07, apesar de poucas empresas que fazem parte da associação que ele preside concordarem com esse valor.

Não há dúvida de que as sacolas plásticas contribuem de forma aguda para a degradação do meio ambiente e para a piora do bem estar dos moradores das grandes metrópoles brasileiras. As chuvas que transformam São Paulo em uma Veneza de mau gosto  no fim das tardes de verão são prova irrefutáveis disso. Mas não há dúvida também de que essas mesmas sacolinhas fazem parte de um negócio milionário. A estimativa é de 5,2 bilhões delas sejam distribuídas gratuitamente todos os anos apenas no estado de São Paulo. Os supermercados pagam em média R$ 0,03, o que gera um gasto anual apenas em São Paulo de R$ 150 milhões.

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