Delator de esquema no Esporte foi coagido para não acusar governador do DF, indica gravação
O policial militar João Dias, delator do esquema de cobrança de propina que derrubou ministro do Esporte, Orlando Silva (PCdoB), e que também faz acusações contra o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PCdoB) foi coagido por um oficial da Corregedoria da Polícia Militar do Distrito Federal a desistir de levar o caso adiante. 'Quer relatar, relata, mas você está colocando o pé na cova', advertiu o major Neilton Barbosa, que comandava o interrogatório de Dias, em trechos aos quais o Estado de S. Paulo teve acesso. 'Os políticos passam, você fica e a instituição é perene', reforçou.
Dias foi preso na semana passada ao invadir o Palácio do Buriti, em Brasília; agredir servidores e jogar no gabinete de um secretário do governo do Distrito Federal um total de R$ 200 mil que diz ter sido deixado na sua casa como suborno para que não fizesse denúncias contra o governador Agnelo Queiroz (PT). Dias disse no interrogatório ter recebido R$ 250 mil em mãos do chefe do Gabinete Militar do DF, coronel Rogério Leão, para subornar uma testemunha: o lobista Daniel Tavares. Empregado de uma indústria química, Tavares teria provas do envolvimento de Agnelo com esquema de recebimento de propina no período em que foi diretor da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), de 2007 a 2010.
'Quem deu dinheiro na minha casa, para mim, foi o coronel Leão', disse Dias. 'Eu paguei o Daniel para ficar quieto, e o Daniel fez esse documento que é uma espécie de nada-consta', afirmou o policial militar. Ele insinuou ter gravado a entrega do dinheiro do suborno. 'Tenho 22 câmeras na minha casa, está tudo filmado', garantiu. Até agora, porém, o militar não entregou à Justiça essa prova. O coronel Leão negou a denúncia pela assessoria de imprensa da PM do Distrito Federal. Agnelo Queiroz não quis se manifestar.
O comando da PM informou que determinou o afastamento imediato do major Neilton Barbosa por ter conduzido o depoimento com 'posições pessoais e não institucionais'. Houve decisão, ainda, pela instauração de inquérito policial militar e pelo encaminhamento do áudio para perícia técnica. Em relação a Dias, segue na instituição o processo que ele responde junto ao Conselho de Disciplina. O policial pode ser condenado a penas que vão de advertência à expulsão da corporação.
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