Corte de 0,5 ponto no juro põe meta de inflação na berlinda
Em uma atitude sem precedentes no sistema de metas de inflação brasileiro, o Comitê de Política Monetária (Copom) surpreendeu até as previsões mais agressivas e decidiu reduzir a taxa Selic em 0,5 ponto percentual, para 12% ao ano. Sob o argumento de que a crise externa começa a afetar o desempenho da economia doméstica, o Copom interrompeu o ciclo de aperto monetário que vigorava desde o início do ano para iniciar, sem qualquer intervalo, um processo de alívio monetário - atitude também inédita, que vai na contramão do gradualismo que, historicamente, marcou a condução da política monetária no Brasil.
O corte de juros definido ontem conseguiu surpreender até o "ousado" mercado financeiro, que tradicionalmente busca apostas alternativas ao consenso, em busca de ganhos potenciais. Nos contratos de juros futuros, as apostas de baixa se concentravam em redução de 0,25 ponto. Ou seja, o pregão hoje deve ser bastante movimentado, com espaço para ajustes em todos os contratos.
A expectativa é que os vencimentos de curto prazo se ajustem para baixo, captando não só a decisão de ontem, mas, também, colocando no preço a percepção de que a taxa cai, ainda mais, até o fim do ano. Já nos contratos de longo prazo, a tendência é de alta das taxas, em uma atitude típica dos momentos em que o mercado põe em dúvida o compromisso do BC com o cumprimento da meta de inflação. A queda de agora, que surpreendeu, aumenta a incerteza quanto ao comportamento da inflação no futuro. Se o quadro que se espera é de incerteza, o mercado pede mais prêmio para emprestar dinheiro.
No comunicado divulgado após a reunião, o Banco Central mostrou que acredita em um cenário externo muito mais difícil do que o imaginado anteriormente, com possibilidade de uma recessão global ou de um duplo mergulho. Na avaliação do economista do Santander, Cristiano Souza, a autoridade monetária sinalizou um pessimismo maior até do que o previsto pelo mercado. "Esperávamos que o corte da Selic acontecesse mais para frente, em novembro. O BC está com um cenário mais pessimista que o nosso e talvez que o mercado inteiro", disse Souza.
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