sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Corrupção - Infelizmente não é novidade

Mensagens de quem ajudou a erguer Brasília

Ao tentar consertar uma goteira, funcionários descobrem frases escritas por operários que trabalharam na construção da Câmara em 1959


Denise Madueño, de O Estado de S.Paulo
BRASÍLIA - Passados 52 anos, a busca pela fonte de uma goteira perene que incomodava deputados a caminho do plenário levou funcionários da manutenção da Câmara a quebrar parte da plataforma superior do prédio e ressuscitar o passado. Ali, em um espaço chamado de "caixão perdido" pelos engenheiros, mensagens igualmente incômodas escritas à lápis no concreto e nas estacas pelos peões que ergueram o prédio em 1959 foram descobertas. O operário José Silva Guerra tinha um desejo: "Que os homens de amanhã que aqui vierem, tenham compaixão dos nossos filhos e que a lei se cumpra".
No vão entre duas lajes de concreto que sustentam a cúpula da Câmara, em forma de um prato virado para cima, os funcionários encontraram mensagens deixadas pelos trabalhadores que vieram durante a construção de Brasília. Esperança e melancolia se misturam em um português precário. O esperançoso José Guerra completou sua mensagem com uma sentença em tradução livre do latim: "Duraleques ce de Lequis", para dizer que a lei é dura, mas é a lei (dura lex sed lex, no original em latim).
Uma busca nos arquivos da Câmara leva ao nome de José Silva Guerra em meio a uma lista com dezenas de operários que trabalharam na construção do prédio. É uma relação dos salários pagos pela "Empreza Brasileira de Engenharia S.A." em março de 1959. Naquele mês, Guerra trabalhou 208 horas normais e fez 98 horas extras no mês. Contando sete dias de serviço na semana, dá uma média em torno de dez horas por dia.
Pela carga horária, o salário dele de Cr$ 4.000,00, foi incrementado. Ele recebeu Cr$ 13.314,40, em torno de dois salários mínimos, considerando dados do Dieese que registram o mínimo de R$ 5.900,00 na época.
"O que ganhávamos era pouco, mas dava para viver bem e guardar um dinheirinho", recordou Claudionor Pedro dos Santos, de 72 anos, que trabalhava como apontador na obra do Congresso. "Trabalhávamos dia e noite. Não tinha domingo nem feriado. O pessoal não reclamava. Existia muita solidariedade", disse, na quinta-feira, 11, ao retornar à Câmara para ver as mensagens deixadas em 1959.


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