Corrupção criou raízes na cultura do País, diz teólogo
Debate na arquidiocese indica que tolerância com irregularidades não ajuda no desenvolvimento brasileiro
Cláudio Isaías
"A corrupção criou raízes na sociedade brasileira. E o pior é que o povo brasileiro não faz nada para reagir. É um povo passivo." Para o teólogo e vigário episcopal da cultura na Arquidiocese de Porto Alegre, Urbano Zilles, o grande perigo, além dos desvios dos recursos financeiros, é a destruição dos valores éticos do brasileiro.
Zilles participou ontem do debate As faces Perversas da Corrupção e suas Consequências para as Políticas Sociais, organizado pelo Secretariado de Ação Social da Arquidiocese de Porto Alegre (SAS). O encontro reuniu lideranças do serviço de caridade das paróquias e representantes de ONGs que atuam na área de assistência social.
Para o teólogo, o cidadão brasileiro não se sente responsável pelas notícias sobre corrupção que diariamente são publicadas na mídia. "O que basta à população é estar informada sobre o fato. Não existe uma cobrança em função dos desvios dos recursos públicos", comenta. Segundo Zilles, essa tolerância da população com as irregularidades em órgãos públicos é proveniente da colonização portuguesa, que, segundo ele, baseou suas ações na autoridade. "No município, é o prefeito que cuida da cidade, na segurança é o delegado e na igreja é o padre. Nunca o problema é do povo", destaca.
Para o teólogo, a crença sempre na autoridade federal, estadual e municipal é um descompromisso do cidadão. "A sociedade brasileira não dá a devida importância para os valores éticos e quem age dessa maneira desrespeita a cidadania", acrescenta.
De acordo com Pedro Francisco da Silva, filósofo e assessor parlamentar do deputado Miki Breier (PSB), um dos grandes problemas do povo brasileiro é a passividade. "Existe uma paralisia do cidadão quando se trata do assunto corrupção. Não deveria ser assim porque estão desviando recursos públicos que deveriam ser investidos em educação, saúde e segurança", comenta.
Segundo o superintendente-executivo do SAS, Ivo Guizzardi, é preciso promover na comunidade ações que destaquem a importância da ética e de uma cultura de respeito ao bem comum e ao recurso público. "A sociedade precisa deixar de tolerar a apropriação de recursos públicos para atender a interesses particulares", explica.
De acordo com Guizzardi, os brasileiros não podem ser cegos e tolerantes com os desvios de dinheiro na esfera pública. "É hora de a população acordar. Se os casos de corrupção que acontecem no Brasil se dessem na Europa ou em outro país da América Latina, teríamos uma revolta popular", acrescenta. Para Guizzardi, a tolerância com a corrupção não é uma atitude que ajuda o desenvolvimento do País.
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