quarta-feira, 16 de maio de 2012

Comissão da Verdade não admite, mas terá foco em crimes da ditadura

Comissão da Verdade não admite, mas terá foco em crimes da ditadura
Comissão da Verdade não admite, mas terá foco em crimes da ditadura
Os integrantes da Comissão da Verdade garantem ter total autonomia e consideram que não há sentido em falar de crimes da resistência à ditadura (Foto: Roberto Stuckert Filho. Presidência)

Brasília – “Não falo mais. A partir de hoje, é só trabalho”, afirmou, lacônico, Paulo Sérgio Pinheiro após tomar posse como membro da Comissão Nacional da Verdade, nesta quarta-feira (16). Os sete integrantes do grupo que deverá esclarecer as graves violações de direitos humanos praticadas entre 1946 e 1988 começaram a trabalhar imediatamente depois da solenidade. A primeira reunião foi realizada no Palácio do Planalto, com a presença dos ministros da Casa Civil, Justiça e Advocacia-Geral da União, e serviu apenas para delinear a estrutura de trabalho do colegiado.

“Foi uma reunião essencialmente burocrática”, declarou o ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ) e coordenador da Comissão da Verdade, Gilson Dipp, sobre o encontro. O magistrado garantiu que a presença de autoridades do governo não influenciou – nem influenciará – os trabalhos do grupo. “Somos uma comissão de Estado e não estamos subordinados a ninguém”, asseverou. “Temos a mais ampla liberdade de trabalhar conforme nossas consciências e em obedecimento à lei.”

De acordo com Dipp, as prioridades da Comissão serão definidas na próxima reunião, marcada para segunda-feira (22). Na ocasião também deverão começar a precisar o conceito de “graves violações aos direitos humanos”, que norteará os trabalhos do grupo e que tem suscitado controvérsias. Afinal, os membros analisarão os crimes cometidos apenas pelos agentes do Estado ou também pelos militantes da esquerda? “Vamos investigar aquilo que seja efetivamente grave: desaparecimento, tortura, morte. A comissão não tem como fazer interpretações subjetivas. Temos de cumprir a lei.”

No entanto, algumas declarações anteriores permitem vislumbrar alguns dos caminhos que possivelmente serão trilhados pela apuração. “Os militantes [de esquerda] não tiveram como esconder seus crimes. Não há nenhuma queixa de familiares de mortos pelos militantes dizendo que não sabem onde estão seus parentes”, afirma a psicanalista Maria Rita Kehl, membro da Comissão da Verdade, lembrando que, se não há ocultamento, não há o que investigar.

O período estipulado pela lei – que determina a investigação dos abusos cometidos entre 1946 e 1988 – também deve fazer com que a Comissão da Verdade escolha mais facilmente seus focos de atuação. “É um período tão longo que muito provavelmente nós vamos focar mais na ditadura”, ocorrida entre 1964 e 1985. “Porém, não vamos, evidentemente, recusar pistas que possam nos levar a desaparecidos políticos do outro período autoritário.”

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