Indústrias de leite serão chamadas a dar explicações sobre testes no RS
Operação Leite Compensado investiga adição de água e ureia ao produto.
Fraude era cometida por transportadores, mas indústrias não detectaram.
Apesar de não estarem envolvidas na fraude que adulterava o leite cru no Rio Grande do Sul, as indústrias serão chamadas pelo Ministério Público nos próximos dias para dar explicações sobre os testes feitos nos produtos recebidos. A Operação Leite Compensado, desencadeada na última quarta-feira (8), teve como consequência a retirada de lotes de seis marcas do mercado (veja lista aqui), a interdição de três postos de resfriamento e de uma fábrica em Estrela. Sete pessoas ainda estão presas.
De acordo com o Ministério Público, quatro inquéritos civis investigam a responsabilidade das empresas Italac, Mu-Mu, Líder e Latvida, esta última interditada na quinta-feira (9). A Latvida também produzia o leite das marcas Goolac, Hollmann e Só Milk, que também tiveram lotes recolhidos por contaminação com formol. A intenção da promotoria é regular o controle por parte da indústria sobre os produtores os transportadores e obter informações sobre como são feitos os testes de qualidade do produto.
Para o MP, as indústrias falharam ao não identificar a adulteração no produto recebido. "A fraude só ganhou esta dimensão porque os transportadores sabiam deste relaxamento da indústria ao receber o leite cru", diz.
Das sete pessoas presas, seis já foram ouvidas em Tapera até a sexta-feira (9). Cinco delas ficaram caladas e só vão se manifestar em juízo. Duas haviam sido liberadas após os depoimentos. Na segunda-feira (13), será ouvido um empresário preso em Guaporé, na Serra. A denúncia será enviada a Justiça na próxima semana. De acordo com a investigação, os suspeitos fraudavam o leite em três núcleos, mas sem vínculo entre eles.
Exame que detecta ureia não é feito rotineiramente
Uma especialista ouvida pelo G1 afirma que a ureia não é uma substância facilmente identificada nos exames de controle de qualidade usados pela indústria de laticínios. “A análise de ureia não é feita rotineiramente na indústria”, diz a química Júlia Tischer, responsável técnica pelo Laboratório do Leite da Univates, em Lajeado, órgão credenciado pelo Ministério da Agricultura e pela Secretaria Estadual da Agricultura, Pecuária e Agronegócio (Seapa) para análises.
O tipo de exame que detecta a concentração dessa substância no produto é, na maioria das vezes, feito para determinar a dieta de cada animal, com a finalidade de melhorar a qualidade do leite produzido pelo rebanho.
“A gente faz esse exame nutricional do leite de cada animal para definir a dieta da alimentação do gado leiteiro. Não é um método simples, de bancada, que utilize materiais de laboratório. É necessária a aquisição de equipamentos específicos para codificar esse elemento (ureia). Por isso é muito difícil ser encontrado na indústria”, reforça Júlia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário