quinta-feira, 9 de maio de 2013

Fraudador separava o leite para consumo próprio

Fraudador separava o leite para consumo próprio, diz promotor de Justiça

Transportadoras tinham "olheiros" para avisar empresas sobre chegada de fiscais, conta servidora do Ministério da Agricultura

 
Entre milhares de ligações telefônicas interceptadas pelo Ministério Público Estadual (MP), os fraudadores falavam entre si sobre fórmulas, substâncias e proporções que deveriam ser adicionadas ao leite cru. Em um dos diálogos, antes de ocorrer a mistura, o dono de uma transportadora teria dito a um caminhoneiro: "separe o leite da guachaiada", se referindo aos filhos, antes de fazer a mistura.
– Ele pedia para deixar para ele o leite bom, antes de mandar para o consumo da população o produto com a substância cancerígena – destacou o promotor de Justiça, Mauro Rockenbach.

Conforme Ana Lucia Stephan, chefe da divisão de defesa agropecuária da Superintendência do Ministério de Agricultura no Estado, transportadoras tinham "olheiros" na entrada das cidades e em hotéis, para avisar as empresas a suspender a mistura quando chegava a fiscalização. Como não dispõem de carros sem identificação, os fiscais passaram a atuar em momentos menos prováveis: surpreenderam as transportadoras na Páscoa, quando foi revelada amostra com ureia.

Em Ibirubá, houve prisão temporária de Alexandre Caponi, Angélica Caponi Marx, João Cristiano Pranke Marx e João Irio Marx. Em Tapera, de Daniel Rieth Villanova, e em Guaporé, de Leandro Vincenzi. Procurados por ZH, os advogados dos suspeitos não foram localizados. Os investigados poderão responder a crime hediondo de corrupção de produto alimentício, previsto no artigo 272 do Código Penal, com pena mínima de quatro anos. O MP deverá oferecer denúncia aos investigados em cinco dias.

A qualidade do leite no Rio Grande do Sul é monitorada por meio de parceria entre Ministério da Agricultura, Secretaria da Agricultura e MP. No começo do ano, foi confirmada a presença de formadeído em seis lotes de leite da marca Italac, da empresa Goiasminas Indústria de Laticínios Ltda, de Passo Fundo, em um lote da marca Líder, da Laticínios Bom Gosto, de Tapejara, e em um lote da marca Mu-mu, da Vonpar Alimentos, de Viamão. As três empresas foram submetidas a um regime especial de fiscalização.

Diante da gravidade, o Ministério da Agricultura entrou em contato com a Procuradoria-Geral de Justiça, e uma investigação pela Promotoria Especializada Criminal foi desencadeada em fevereiro, quando surgiu uma pista importante. Uma pessoa entregou a fiscais do ministério um saco com cerca de dois quilos de pó branco, detectado depois como ureia.

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