Escavações revelam relíquias escondidas sob o solo da Cúria Metropolitana
Restos mortais de mais de 50 pessoas foram encontrados embaixo do antigo piso de concreto
Após 10 meses de trabalho, pesquisadores acharam o
segundo cemitério de Porto Alegre, inaugurado há 240 anos e usado até
1850 Foto: Ricardo Duarte / Agencia
RBS
Letícia Costa
O projeto de recuperação da arquitetura original da Cúria Metropolitana
transformará um local histórico em um atrativo turístico da Capital, aberto à
população. Sob os andaimes montados para o restauro, foi encontrada uma relíquia
de valor inestimável e, agora, operários dividem espaço com arqueólogos.
Há 10 meses descobrindo o que há debaixo do antigo piso de concreto e pedra, os pesquisadores chegaram até os restos mortais de mais de 50 pessoas, preservados do segundo cemitério criado na cidade.
Inaugurado há 240 anos, com o nascimento da Capital, a área em declive onde hoje estão a Catedral e a Cúria Metropolitana recebeu os mortos até 1850. Questões sanitárias e a lotação do cemitério teriam obrigado a transferência dos sepultamentos para o bairro Azenha.
Botão que pertenceu a militar do Exército de Dom Pedro II
Foto: Ricardo Duarte
A maioria dos corpos permaneceu no local e foi aterrada para a construção de um seminário episcopal que, depois, transformou-se na Cúria. Agora, com o restauro que está sendo realizado na edificação concluída em 1888, houve a necessidade de escavar alguns pontos.
— Os arqueólogos estão encantados com o que encontraram — comenta o padre Luís Inácio Ledur, administrador da Arquidiocese.
Registros ajudarão a descrever rituais
Onde será instalada uma subestação de energia elétrica foram encontrados, cerca de um metro abaixo do piso, uma concentração de ossos, com pelo menos 34 crânios, que, segundo o padre Ledur, podem ter sido transferidos quando foi construída a Catedral.
Nesse local, situado ao lado do muro que delimita a Cúria da Rua Espírito Santo, um verdadeiro escritório de arqueologia foi montado. Luvas, pincéis, capacetes e espátulas são os principais instrumentos de trabalho da equipe coordenada pela arqueóloga Angela Cappelletti. De 10 em 10 centímetros, eles vão desvendando o passado dos moradores de Porto Alegre.
— Esta escavação abre a possibilidade de um estudo bastante importante sobre o traçado da nossa cultura relativa à morte. Anotamos, fotografamos e recolhemos todo o material para tentar depois descobrir o sexo dessas pessoas, o grau de parentesco entre elas, as patologias da época e as etnias — explica Angela.
Os registros minuciosos permitirão descrever as práticas utilizadas nos enterros daquele período. A arqueóloga Jocyane Baretta comenta, por exemplo, que eles já identificaram algumas características do ritual. A maioria das pessoas era enterrada nua, enrolada em uma mortalha presa com alfinetes.
— Não encontramos vestígios de caixão e notamos que a dois palmos da marca onde começava o cemitério tem restos mortais, o que não obedece aos critérios atuais de enterramento — descreve Jocyane.
Além de terem sido sepultados perto da superfície, muitos corpos foram encontrados sobrepostos, o que indica a falta de espaço em decorrência do alto número de mortes por epidemias e guerras.
Peças como um botão que pertenceu a um militar do Exército do imperador Dom Pedro II e contas de colar de origem africana ajudarão a identificar a origem dos habitantes da época. Angela estima que sejam escavados mais dois metros até o nível da calçada da rua, podendo aumentar número de ossadas encontradas.
Há 10 meses descobrindo o que há debaixo do antigo piso de concreto e pedra, os pesquisadores chegaram até os restos mortais de mais de 50 pessoas, preservados do segundo cemitério criado na cidade.
Inaugurado há 240 anos, com o nascimento da Capital, a área em declive onde hoje estão a Catedral e a Cúria Metropolitana recebeu os mortos até 1850. Questões sanitárias e a lotação do cemitério teriam obrigado a transferência dos sepultamentos para o bairro Azenha.
Botão que pertenceu a militar do Exército de Dom Pedro II
Foto: Ricardo Duarte
A maioria dos corpos permaneceu no local e foi aterrada para a construção de um seminário episcopal que, depois, transformou-se na Cúria. Agora, com o restauro que está sendo realizado na edificação concluída em 1888, houve a necessidade de escavar alguns pontos.
— Os arqueólogos estão encantados com o que encontraram — comenta o padre Luís Inácio Ledur, administrador da Arquidiocese.
Registros ajudarão a descrever rituais
Onde será instalada uma subestação de energia elétrica foram encontrados, cerca de um metro abaixo do piso, uma concentração de ossos, com pelo menos 34 crânios, que, segundo o padre Ledur, podem ter sido transferidos quando foi construída a Catedral.
Nesse local, situado ao lado do muro que delimita a Cúria da Rua Espírito Santo, um verdadeiro escritório de arqueologia foi montado. Luvas, pincéis, capacetes e espátulas são os principais instrumentos de trabalho da equipe coordenada pela arqueóloga Angela Cappelletti. De 10 em 10 centímetros, eles vão desvendando o passado dos moradores de Porto Alegre.
— Esta escavação abre a possibilidade de um estudo bastante importante sobre o traçado da nossa cultura relativa à morte. Anotamos, fotografamos e recolhemos todo o material para tentar depois descobrir o sexo dessas pessoas, o grau de parentesco entre elas, as patologias da época e as etnias — explica Angela.
Os registros minuciosos permitirão descrever as práticas utilizadas nos enterros daquele período. A arqueóloga Jocyane Baretta comenta, por exemplo, que eles já identificaram algumas características do ritual. A maioria das pessoas era enterrada nua, enrolada em uma mortalha presa com alfinetes.
— Não encontramos vestígios de caixão e notamos que a dois palmos da marca onde começava o cemitério tem restos mortais, o que não obedece aos critérios atuais de enterramento — descreve Jocyane.
Além de terem sido sepultados perto da superfície, muitos corpos foram encontrados sobrepostos, o que indica a falta de espaço em decorrência do alto número de mortes por epidemias e guerras.
Peças como um botão que pertenceu a um militar do Exército do imperador Dom Pedro II e contas de colar de origem africana ajudarão a identificar a origem dos habitantes da época. Angela estima que sejam escavados mais dois metros até o nível da calçada da rua, podendo aumentar número de ossadas encontradas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário