Ensino e emprego seguram jovens no interior do Estado
Educação de qualidade e economia forte reverteram tendência de migração para a Capital
José Borges (E) e Carlos Lima (D) valorizam o ritmo
mais ameno de Rio Grande Foto: Nauro Júnior / Agencia
RBS
Guilherme Mazuí*
Os Piltz decidiram não emigrar. Permaneceram no Interior.
Proprietária de um laboratório e de uma clínica de oncologia e hematologia, a família de Santo Ângelo faz a vida distante 434 quilômetros de Porto Alegre. Ao optar por ficar nas Missões, pai, mãe e três filhos personificam uma tendência das últimas décadas: o Interior tem procurado menos a Capital.
Nos anos 80, quando os negócios dos Piltz começavam a se consolidar, metade do 1,1 milhão de moradores de Porto Alegre vinha de outros municípios. Situação que virou. Três décadas depois, a Capital tem apenas um terço de forasteiros. Segundo o Censo 2010, do atual 1,4 milhão de habitantes, 468 mil (33,25%) são de outras cidades.
— Quem migra procura melhores condições de vida. Até os anos 80, esse salto era realizado em Porto Alegre. Agora é possível dá-lo em novos lugares — analisa Ademir Koucher, supervisor de informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A equação para explicar o fenômeno envolve variáveis em educação, economia, nascimentos e mortes, observa Koucher. Se o pico das migrações ocorreu na metade do século passado, um bom quinhão dos novos moradores da época já morreu ou buscou ares mais sossegados ao se aposentar.
— Há um fluxo de pessoas que criam os filhos e procuram o Litoral ou a Serra. Hoje há internet, comunicação fácil. Quem deixa a Capital segue conectado com o mundo — explica o economista Adelar Fochezatto, professor da Pontifícia Universidade Católica (PUCRS).
Investimentos foram descentralizados
Com dados da Fundação de Economia e Estatística (FEE), da qual é ex-presidente, Fochezatto indica uma queda da participação de Porto Alegre no Produto Interno Bruto (PIB) gaúcho, caminho inverso ao do Interior, que também ampliou o Ensino Superior. O dueto estudo-emprego seduziu os Piltz. Lisiane, 35 anos, deixou Santo Ângelo na década de 90 para se formar em Farmácia e concluir a pós-graduação na Capital, retornando em seguida. Os cursos não eram oferecidos nas Missões, realidade que mudou quando chegou a vez dos irmãos. Fabiane, 34, fez Educação Física em Ijuí e Farmácia em Santo Ângelo. O caçula Daniel, 32, também estudou na cidade.
A descentralização de investimentos públicos, como no caso de Rio Grande, alvo de mais de R$ 14 bilhões da indústria naval, guia as pessoas para o Interior, em especial diante de uma Capital saturada. Professor de economia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Sabino Porto Junior acredita que Porto Alegre só voltará a ser atrativa se investir em tecnologia e logística num eixo regional, com ligação até a Serra.
— Em São Paulo, os municípios da região metropolitana geram um mercado com 20 milhões de pessoas. Espalhar o desenvolvimento é bom no curto prazo, mas ruim no longo, pois o Estado não ganha uma região metropolitana competitiva — destaca.
Com plataformas de petróleo erguidas à beira da Lagoa dos Patos, mais uma universidade federal e três faculdades particulares com cursos voltados à construção naval, o engenheiro mecânico Carlos Lima, 29 anos, permaneceu em Rio Grande. Trabalha na empresa Quip, na obra da P-55, onde conheceu o assistente técnico José Borges, 43, que trocou Porto Alegre pelo Interior. Os dois desfrutam do ritmo mais ameno de vida, aspecto que pesa no desejo de Carlos, casado e pai de uma menina, de seguir no seu rincão:
— Poder criar uma criança aqui é melhor.
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