Aos 20 anos, Mercosul quer expansão e teme "invasão comercial"
Criado com o intuito de integrar as economias de Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai, o Mercosul completa 20 anos em 2011 em espírito "reflexivo" e com a ambição de se adaptar aos novos ventos econômicos globais - em que a China detém poder cada vez maior -, de expandir sua atuação e de proteger-se das turbulências que atingem os países desenvolvidos.
A avaliação é de ministros de Estado que participaram na terça-feira da abertura da 41ª cúpula do bloco, em Assunção, Paraguai.
"Quando o Tratado de Assunção foi assinado, em 1991, o mundo era diferente: a China não era um parceiro comercial significativo dos países do bloco, e o mundo em desenvolvimento não era o motor do comércio internacional. (...) Essas características fazem com que vivamos em ambiente de acelerada transformação, o que exige acompanhamento detido para que não sejam perdidas oportunidades interessantes de inserção internacional", disse a jornalistas o chanceler Antonio Patriota.
O ministro afirmou que o bloco vive momento favorável, tendo atingido o recorde de US$ 45 bilhões em trocas comerciais internas em 2010. Neste ano, diz esperar que o comércio alcance ao menos US$ 50 bilhões.
Ainda assim, o chanceler afirmou que o bloco passa por momento de "reflexão sobre o futuro", em que têm sido discutidos "novos rumos e correções de assimetrias". Entre as ideias destacadas pelo ministro estão a adesão da Bolívia e do Equador.
Segundo Patriota, a proposta conta com a simpatia dos dois países e foi objeto de debate entre os chanceleres do bloco nesta terça-feira.
O subsecretário-geral da América do Sul, Central e Caribe, Antonio Simões, disse que uma delegação do Mercosul deve visitar em breve ambos os países para discutir a viabilidade do ingresso. Atualmente, Bolívia e Equador são Estados associados do Mercosul, ao lado de Chile, Colômbia, Peru e Venezuela - este depende apenas de um aval do Congresso paraguaio para ingressar no bloco.
Proteção de turbulências
Se por um lado o bloco busca expandir sua atuação e tirar maior proveito das mudanças mundiais em curso, por outro, pretende proteger-se de respingos da crise econômica global.
Segundo o ministro da Fazenda, Guido Mantega, "nós devemos cuidar que nossos mercados sirvam para estimular o nosso crescimento, e não o crescimento dos outros países". Mantega, que se reuniu na terça-feira com os ministros da Fazenda da Argentina, Uruguai e Paraguai, disse que serão discutidas na reunião entre os chefes de Estado do bloco, na quarta-feira, formas de impedir que os mercados sul-americanos "sejam invadidos por produtos de países que não têm para quem vender".
"O que nós combinamos é que os mercados latino-americanos devem ser desfrutados pelos países do continente. Devemos preservar esses mercados para nós", disse o ministro. Ele afirmou que as medidas visam responder à postura tanto dos Estados Unidos e da União Europeia quanto de países asiáticos, que tradicionalmente exportam para europeus e americanos, mas, devido à crise nessas regiões, têm buscado com avidez os mercados sul-americanos.
Encontro bilateral
A presidente Dilma Rousseff aproveitará a cúpula do Mercosul para fazer uma reunião bilateral com o governo paraguaio. No encontro, os governos devem tratar de cooperação nas áreas de segurança, pesca e de televisão digital.
Será o primeiro encontro de Dilma com o presidente paraguaio, Fernando Lugo, após o Brasil aprovar o aumento nos valores pagos ao Paraguai pelo uso da energia da usina hidrelétrica de Itaipu.
Após se encontrar com Lugo, Dilma deve se reunir com outros chefes de Estado do Mercosul. O grupo, no entanto, estará desfalcado: a presidente argentina, Cristina Kirchner, cancelou sua visita ao Paraguai. Ela sofreu uma queda na semana passada e disse ter sido aconselhada a evitar a viagem.
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