Em três dias, preço de imóvel na Rocinha aumenta 50 %
Donos de casa de dois quartos na Rua 1 queriam R$ 26 mil, mas agora exigem R$ 40 mil
RIO - O casal de comerciantes Sebastião Alves e Lenita Maria Gomes da Rocha fazia planos para vender a casa e passar adiante o bar que têm na Rua 1 na Rocinha. A disposição de se mudar para um sítio em Itaboraí continua, mas não os preços para fechar negócio. Antes da ocupação da favela, concordavam em vender a casa de dois quartos, sala e cozinha por R$ 26 mil. Agora, querem R$ 40 mil. Pelo bar, bem localizado, cujo ponto alugam por R$ 500 mensais, pretendem cobrar luvas de R$ 20 mil.
— A Rocinha tem de tudo. Quem mora aqui não precisa nem ir a shopping. Além disso, está perto da Zona Sul. É claro que a tendência é que tudo se valorize — disse Lenita Maria.
Um taxista que se identificou apenas como Carlos Henrique aumentou de R$ 40 mil para R$ 50 mil o preço de venda de um imóvel herdado do pai, perto dos apartamentos construídos pelo PAC:
— Antes da ocupação, chegaram a me oferecer R$ 30 mil e não quis vender. Agora, acho que vou encontrar comprador e ainda está barato — diz.
A valorização, porém, não é novidade em alguns pontos. O mercado dos imóveis mais próximos à Estrada da Gávea já estava aquecido antes mesmo da ocupação. O líder comunitário Adelson Guedes explica:
— Especula-se que traficantes estavam investindo em imóveis em bons pontos da favela. Além disso, sabia-se que, mais cedo ou mais tarde, a favela seria pacificada e os pontos mais próximos do asfalto se valorizariam. Além disso, também tivemos as obras do PAC — enumerou.
A ocupação da Rocinha para a implantação da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) deverá ter impacto na valorização dos imóveis dentro da favela e também no seu entorno. Repetindo um fenômeno já atestado pelo mercado imobiliário em outros bairros com UPPs, espera-se que o metro quadrado em São Conrado, hoje avaliado em R$ 13 mil na orla, suba de 23% a 30% nos primeiros meses após a pacificação, segundo cálculos da Associação dos Dirigentes do Mercado Imobiliário (Ademi) e do Sindicato da Habitação (Secovi-Rio).
Corretores informais que trabalham dentro da Rocinha também já começam a acenar com o encarecimento de casas e apartamentos na comunidade a partir da chegada da UPP. Para o vice-presidente da Ademi, Rubem Vasconcelos, morar na Avenida Prefeito Mendes de Moraes deverá ficar, em seis meses, mais caro do que viver na Avenida Sernambetiba, na Barra da Tijuca, onde o metro quadrado custa R$ 16 mil. Apenas as avenidas Delfim Moreira e Vieira Souto, no Leblon e em Ipanema, são mais valorizadas. Nelas, ter um metro quadrado para chamar de seu custa R$ 50 mil. Sem espaços novos para construção, a valorização da orla, diz Vasconcelos, será dos imóveis já existentes.
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