Aniversário de Carlos Drummond de Andrade torna-se 'o dia D'
Eventos espalhados pelo país comemoram a data
Para o Instituto Moreira Salles, não existe nenhuma pedra no caminho. Afinal, amanhã, 31, dia do aniversário de Carlos Drummond de Andrade (nasceu em 1902), foi transformado pela entidade que cuida do precioso acervo do poeta no Dia D - Dia Drummond, que passa a figurar no calendário cultural do país.
— Não queríamos que um material tão rico ficasse limitado aos muros do instituto — conta Flávio Moura, um dos curadores da festa, ao lado do poeta Eucanaã Ferraz.
— Nossa inspiração foi o Bloomsday, que acontece todo 16 de junho, quando os irlandeses (e todo o mundo) comemoram a vida e a obra de James Joyce.
O ponto de partida foi envolver o maior número possível de admiradores do poeta, tanto famosos como desconhecidos. Assim, foi elaborada uma programação diversificada, que se espalha por diversas capitais brasileiras. Um dos destaques será a exibição do filme Consideração do Poema, produzido pelo IMS justamente para a data, no qual nomes importantes da cultura brasileira leem poemas de Drummond, entre eles Chico Buarque, Caetano Veloso, Milton Hatoum, Fernanda Torres, Adriana Calcanhotto, Cacá Diegues, Antonio Cícero, Paulo Henriques Brito e Marília Pêra.
Em Porto Alegre, um sarau ocorre às 18h, na livraria Bamboletras (rua Lima e Silva, 776, loja 3) para marcar a data. O livro A Rosa do Povo será lido com participação de Maria do Carmo Campus, professora da UFRGS; das atrizes Laura Medina e Adriane Azevedo; dos poetas Liana Timm, Cris Macedo, Lenira Fleck e Ricardo Silvestrim, e da presidente da Câmara de Vereadores de Porto Alegre, Sofia Cavedon. O evento terá música de Leonardo Ribeiro.
Com o evento no país inteiro, os curadores pretendem incentivar fãs anônimos a também lerem suas poesias preferidas: todos podem enviar para o site oficial (www.diadrummond.com.br) seus próprios vídeos com leituras de poemas. O material vai inspirar um novo filme. Vale tanto famosos como Poema de Sete Faces (Quando nasci, um anjo torto / desses que vivem na sombra /falou: Vai, Carlos, ser gauche na vida) como o emblemático No Meio do Caminho (No meio do caminho tinha uma pedra / tinha uma pedra no meio do caminho / tinha uma pedra / no meio do caminho tinha uma pedra), que Mario de Andrade considerou formidável mas fruto de um cansaço intelectual.
Um terceiro vídeo também produzido pelo IMS estará disponível no site: No Meio do Caminho (2010) conta com 11 versões em língua estrangeira do poema mais conhecido de Drummond declamadas por personalidades diversas, como David Arrigucci Jr., Matthew Shirts, Jean-Claude Bernardet e Heloisa Jahn.
Tantos festejos surpreenderiam o próprio homenageado. Meses antes de morrer, em 1987, o poeta estava seguro que, dali a dez anos, ninguém mais se importaria com sua obra. O excesso de modéstia certamente cegou o escritor, que deixou seus papéis cuidadosamente arquivados e catalogados, como se tivesse clareza quanto à importância de documentos ligados à vida literária na constituição - ou reconstituição - da história de uma carreira.
— Entre o material guardado pelo IMS, encontram-se preciosidades como uma pasta catalogada pelo poeta como Receitas — conta Samuel Titan, coordenador executivo do instituto.
— Ali, Drummond colocou em ordem alfabética recortes de assuntos culinários, mas é possível notar que ele não entendia tanto de gastronomia, pois, na letra A, constam verbetes muito genéricos, como Aves.
O assunto alimenta um divertido folclore sobre a tendência metódica do poeta.
— Dizia-se que até os remédios na prateleira eram ordenados por ordem alfabética — diverte-se Moura, que revela que o trabalho de catalogação do material vem sendo executado progressivamente.
— Há muita preciosidade, o que exige tempo na separação. Certamente, vamos descobrir uma nova face de Drummond.
De fato, sua escrita encobre mistérios - afinal, como um homem tão pouco viajado pode ter escrito, desde os primeiros livros publicados em Belo Horizonte, uma poesia tão audaciosa e rigorosamente cosmopolita? A dúvida já foi levantada pelo escritor e pesquisador Silviano Santiago, que continua:
— Como um profissional que desde cedo se definiu pela quase imobilidade da carreira de funcionário público pode dar lição tão rica e tão ampla de geografia e de história universais?
As respostas não surgem com simplicidade, mas a reunião de vozes celebrando a poesia de Drummond permite a descoberta da expressão mais pura de sua arte.
— Não queríamos que um material tão rico ficasse limitado aos muros do instituto — conta Flávio Moura, um dos curadores da festa, ao lado do poeta Eucanaã Ferraz.
— Nossa inspiração foi o Bloomsday, que acontece todo 16 de junho, quando os irlandeses (e todo o mundo) comemoram a vida e a obra de James Joyce.
O ponto de partida foi envolver o maior número possível de admiradores do poeta, tanto famosos como desconhecidos. Assim, foi elaborada uma programação diversificada, que se espalha por diversas capitais brasileiras. Um dos destaques será a exibição do filme Consideração do Poema, produzido pelo IMS justamente para a data, no qual nomes importantes da cultura brasileira leem poemas de Drummond, entre eles Chico Buarque, Caetano Veloso, Milton Hatoum, Fernanda Torres, Adriana Calcanhotto, Cacá Diegues, Antonio Cícero, Paulo Henriques Brito e Marília Pêra.
Em Porto Alegre, um sarau ocorre às 18h, na livraria Bamboletras (rua Lima e Silva, 776, loja 3) para marcar a data. O livro A Rosa do Povo será lido com participação de Maria do Carmo Campus, professora da UFRGS; das atrizes Laura Medina e Adriane Azevedo; dos poetas Liana Timm, Cris Macedo, Lenira Fleck e Ricardo Silvestrim, e da presidente da Câmara de Vereadores de Porto Alegre, Sofia Cavedon. O evento terá música de Leonardo Ribeiro.
Com o evento no país inteiro, os curadores pretendem incentivar fãs anônimos a também lerem suas poesias preferidas: todos podem enviar para o site oficial (www.diadrummond.com.br) seus próprios vídeos com leituras de poemas. O material vai inspirar um novo filme. Vale tanto famosos como Poema de Sete Faces (Quando nasci, um anjo torto / desses que vivem na sombra /falou: Vai, Carlos, ser gauche na vida) como o emblemático No Meio do Caminho (No meio do caminho tinha uma pedra / tinha uma pedra no meio do caminho / tinha uma pedra / no meio do caminho tinha uma pedra), que Mario de Andrade considerou formidável mas fruto de um cansaço intelectual.
Um terceiro vídeo também produzido pelo IMS estará disponível no site: No Meio do Caminho (2010) conta com 11 versões em língua estrangeira do poema mais conhecido de Drummond declamadas por personalidades diversas, como David Arrigucci Jr., Matthew Shirts, Jean-Claude Bernardet e Heloisa Jahn.
Tantos festejos surpreenderiam o próprio homenageado. Meses antes de morrer, em 1987, o poeta estava seguro que, dali a dez anos, ninguém mais se importaria com sua obra. O excesso de modéstia certamente cegou o escritor, que deixou seus papéis cuidadosamente arquivados e catalogados, como se tivesse clareza quanto à importância de documentos ligados à vida literária na constituição - ou reconstituição - da história de uma carreira.
— Entre o material guardado pelo IMS, encontram-se preciosidades como uma pasta catalogada pelo poeta como Receitas — conta Samuel Titan, coordenador executivo do instituto.
— Ali, Drummond colocou em ordem alfabética recortes de assuntos culinários, mas é possível notar que ele não entendia tanto de gastronomia, pois, na letra A, constam verbetes muito genéricos, como Aves.
O assunto alimenta um divertido folclore sobre a tendência metódica do poeta.
— Dizia-se que até os remédios na prateleira eram ordenados por ordem alfabética — diverte-se Moura, que revela que o trabalho de catalogação do material vem sendo executado progressivamente.
— Há muita preciosidade, o que exige tempo na separação. Certamente, vamos descobrir uma nova face de Drummond.
De fato, sua escrita encobre mistérios - afinal, como um homem tão pouco viajado pode ter escrito, desde os primeiros livros publicados em Belo Horizonte, uma poesia tão audaciosa e rigorosamente cosmopolita? A dúvida já foi levantada pelo escritor e pesquisador Silviano Santiago, que continua:
— Como um profissional que desde cedo se definiu pela quase imobilidade da carreira de funcionário público pode dar lição tão rica e tão ampla de geografia e de história universais?
As respostas não surgem com simplicidade, mas a reunião de vozes celebrando a poesia de Drummond permite a descoberta da expressão mais pura de sua arte.
Agência Estado
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