Como a Chilli Beans se tornou uma máquina de inovação
De um quisque a uma marca-conceito, a grife de óculos Chilli Beans tem muito a ensinar sobre branding, negócios e empreendedorismo
Daslei Bandeira, Administradores.com
No início era um quiosque, que se transformou em um ponto de venda, que se transformou em uma rede de franquias e que agora irá inaugurar um espaço próprio em uma das principais avenidas de São Paulo. Estamos falando da Chilli Beans, um dos mais emblemáticos casos de sucesso de empresas brasileiras.
O presidente da companhia, Caito Maia, foi um dos palestrantes da última terça-feira no 17° SAP Forum Brasil, que acontece entre os dias 19 e 21 de março. O empreendedor falou sobre a história da empresa, os planos para o futuro e, principalmente, o que faz da Chilli Beans uma marca de referência em óculos, relógios e acessórios de moda. A intenção é ambiciosa: conquistar os olhos e as mentes de seus consumidores e entrar no panteão das marcas-religião.
"De louco a gente só tem a cara, queremos construir um futuro sólido", declarou Caito. "Queremos ter mil pontos de venda até as Olimpíadas e virar uma marca global", continua. Atualmente a rede conta com cerca de 70 pontos no exterior e 400 lojas no Brasil.
História
Antes de fundar a Chilli Beans, Caito foi vocalista da banda Las Chicas Tienen Fuego - "um passado negro", brinca. Apesar do gosto pela música – ele chegou a estudar na Faculdade de Música Berklee, em Boston (EUA) – o paulistano resolveu empreender. "Eu percebi que as pessoas que usavam óculos não estavam preocupadas com os raios ultravioleta, elas queriam fazer um estilo", conta.
De um camelô nos Estados Unidos, onde viveu sete anos, Caito adquiriu 250 peças e trouxe para o Brasil, "tudo certinho, com nota fiscal", ironiza. Conseguiu vender tudo em menos de três dias. Na autobiografia "E Se Colocar Pimenta", ele relata que viajava rotineiramente para os Estados Unidos, levando uma mala vazia e retornando com ela cheia. "Comecei a bater na porta de empresas, para dar um passo acima", diz. Uma dessas empresas fez um pedido volumoso, mais do que o empreendedor poderia fornecer, mas adiantou o pagamento. Daí nasceu a Blue Velvet, primeiro empreendimento de Caito.
"Eu consegui chegar a 250 clientes de atacado no Brasil. Três deles não me pagaram, e eu quebrei", afirma. A Blue Velvet atingia boas vendas mas não gerava fluxo de caixa, pagando à vista seus fornecedores e vendendo a prazo no atacado. Com o calote, a empresa ficou em um beco sem saída. "A gente vai aprendendo com as histórias da vida, o importante é se mexer. No atacado, o risco era altíssimo, e eu não tinha o que tenho de mais precioso hoje: a marca", acredita Caito. E esse foi o ponto de partida da Chilli Beans.
"As minhas únicas opções eram: ou eu voltavapara banda Las Chicas Tienen Fuego ou ia para o Mercado Mundo Mix, onde a moda brasileira surgiu e onde eu aprendi que todo mundo tinha marca", relata. Ali foram vendidos os primeiros óculos com a marca Chilli Beans.
Uma sacada que contribuiu ainda mais para alavancar as vendas sem grandes investimentos foi a abertura de quiosques nos shopping, em lugar dos tradicionais - e caros - pontos de venda. Alta visibilidade, espaço compacto e baixo custo eram algumas das vantagens aproveitadas. Uma outra estratégia que contribuiu para consolidar as vendas e a marca, foi eliminar as vitrines e os vidros, deixando os produtos expostos. O consumidor fica mais à vontade e não há sequer problemas com roubos, até hoje.
As inovações seguiram ao longo dos anos. Tanto na criatividade dos negócios - em alguns shoppings, existem até três lojas Chilli Beans, que visam públicos diferentes - até a própria tecnologia.
Atualmente é possível experimentar um óculos através de um app e uma câmera na própria loja, onde o cliente tira quatro fotos de si mesmo com o modelo.
"Hoje eu tenho um mailing com 400 mil rostos. Eu sei se a pessoa é moderna, esportiva, clássica, básica, e eu falo com essas pessoas constantemente, porque eu as cadastro de forma divertida", afirma. Segundo Caito, esse avanço permitiu que a Chilli Beans passasse a lançar dez modelos de óculos escuros por semana.
Futuro
A Chilli Beans irá inaugurar em breve uma nova loja na Rua Oscar Freire, em São Paulo (SP), mas será diferente das demais. Irá contar com 750 metros quadrados, e funcionará como um centro cultural, com apresentações musicais e televisivas, cafés e lanchonetes e espaços para intervenções artísticas.
Mas uma dos maiores avanços é um sistema onde o próprio cliente projeta seus óculos - escolhendo cores, estilos e lentes - e, em cinco minutos, esse óculos é entregue, completo. "Seremos a primeira empresa do mundo a ter essa tecnologia, totalmente brasileira", revela.
A Chilli Beans também irá passar a vender óculos de grau, "sem tratar o cliente como um doente". Também será dado um maior foco ao público infantil, uma estratégia que visa o futuro: os consumidores do amanhã crescem envolvidos com o storytelling da Chilli Beans. "Hoje somos um dos maiores revendedores de produtos Barbie", diz Caito.
Já o licenciamento da marca é outro passo que será dado, para alavancar o faturamento. A marca patrocina eventos como o Lollapalooza e é estampada em outros produtos relacionados, como roupas íntimas. A Chilli Beans sabe como fazer um bom branding e lucrar bem em cima disso.
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