Se o crescimento da produção industrial, em agosto, não satisfez as previsões da maioria dos economistas (de mais de 2%), ficou num nível satisfatório de 1,3% sobre o mês anterior, e positivo para 20 dos 27 ramos analisados pelo IBGE.
A pergunta é se estamos realmente diante de uma reação das empresas, depois de meses de estagnação.
Dois fatores ainda nos afastam da conclusão de que se trata de autêntica e durável reação: o aumento concentra-se na indústria de veículos, cuja produção cresceu 3,2%, estimulada pela perspectiva de retorno de um Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) cheio em novembro, que influiu também em outros produtos, como móveis, equipamentos domésticos e aparelhos elétricos. Um fato que podemos considerar altamente positivo foi o crescimento, pelo terceiro mês consecutivo, da produção de bens de capital, refletindo certo otimismo dos industriais, que voltaram a se modernizar e a exportar equipamentos para o exterior.
Porém a forte queda das vendas de automóveis em setembro justifica certa cautela quanto à continuidade do crescimento. Vão aparecer grandes estoques que provavelmente levarão as montadoras a reduzir drasticamente a produção, fenômeno que deve se verificar em outubro, quando também voltarão as pressões para adiar o retorno do IPI, o que se tornou no País um hábito que recebe do governo grande atenção, como se esse ramo fosse o coração da indústria manufatureira.
Na realidade, enquanto o governo não optar por uma política de investimentos na infraestrutura, para aumentar a competitividade das indústrias e favorecer uma retomada da demanda, esse setor continuará dependente de renúncias fiscais para crescer irregularmente.
Não é a primeira vez que o governo está anunciando sua vontade de dar prioridade aos investimentos. Não consegue realizar o que anunciou pelo fato de que não se formou uma poupança pública suficiente. Na realidade, é uma tarefa a ser dada ao setor privado, por meio de um sistema de concessões ou de Parceria Público-Privada (PPP). Esse tipo de acordo exige um cuidado especial que é demorado. Ao governo, caberia já dispor de um texto básico para utilizar em todos os projetos e que seria apenas adaptado em função da natureza das obras a realizar.
Por outro lado, dever-se-ia eliminar incentivos artificiais para aumentar a demanda doméstica a fim de favorecer uma poupança que poderia financiar parte dos investimentos.
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