O empreendedor do galinheiro
No final da década de 80, Leandro Pinto vendeu um carro e um caminhão para comprar uma pequena granja no interior de Minas Gerais. Foi a origem da Mantiqueira, que no ano passado faturou cerca de 330 milhões de reais vendendo ovos
Cunha e Leandro, donos da Mantiqueira
São Paulo - O mineiro Leandro Pinto costuma dizer que as crises no agronegócio não duram mais de 6 horas. “É o tempo que a gente leva para ter fome depois de uma refeição e a voltar a consumir alimento”, afirma ele.
Em pouco mais de duas décadas, Leandro transformou uma pequena granja no interior de Minas Geraisnuma das maiores produtoras de ovos do mundo. Hoje a empresa abriga em seus galpões 10,8 milhões de galinhas.
No ano passado, suas receitas chegaram a 330 milhões de reais, segundo estimativas. Neste depoimento a Exame PME, Leandro conta um pouco de sua trajetória, como atraiu um sócio que ajudou a empresa a mudar de patamar e o que está fazendo para profissionalizar a gestão.
Parece até que era meu destino virar avicultor. Quando nasci, minha família tinha um galinheiro no quintal de casa, em Itanhandu, no interior de Minas Gerais. A vida não era fácil, e meu pai vendeu adubo feito com os dejetos das galinhas para comprar meu enxoval. Comecei a trabalhar ainda menino. Fui engraxate, lavador de carros e office boy. Aos 17 anos, abri meu primeiro negócio, uma loja de máquinas agrícolas. Eu era muito inexperiente, e em menos de dois anos a empresa estava quebrada.
Foi quando as galinhas voltaram a cruzar o meu caminho. Um amigo tinha uma granja de 30 000 aves em Itamonte, cidade vizinha a Itanhandu. Ele sofreu um enfarte e decidiu parar de trabalhar. Por isso, me ofereceu o negócio. Fiquei interessado, mas fui franco — disse que estava quebrado e sem dinheiro para comprar a granja.
Ele não viu nenhum problema nisso. Eu podia comprar só as galinhas e pagar um aluguel pelos galpões, que continuariam pertencendo a ele. Vendi um caminhão velho e um Fiat Uno para levantar uma quantia hoje equivalente a 50 000 reais. Dei o dinheiro como entrada e assumi a granja.
A granja tinha uma clientela pequena, mas fiel. Eram feirantes, donos de padarias e de pequenos restaurantes. Para sobrar algum dinheiro no final do mês, eu fazia tudo. Tirava os pedidos, comprava a ração para as galinhas e entregava os ovos de caminhão. Nos primeiros dois anos, trabalhei muito e descansei pouco. Minha mulher, a Rogéria, me dava um bocado de apoio. Ela é fisioterapeuta, mas ajudava na granja nas horas de folga. Na época, a produção era pequena. Demorava meia semana para encher um caminhãozinho de ovos.
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