APÓS 4 ANOS, BRASIL AINDA PRECISA PAGAR
R$36 MILHÕES PELO PAN
O Brasil esportivo se prepara para os jogos dos extremos, o Pan-Americano, disputa continental de 42 países em 46 modalidades. Desta vez, na acolhedora Guadalajara, do inesquecível estádio Jalisco, palco de cinco dos seis jogos da Seleção Brasileira tricampeã no Mundial de 1970.
Jogos dos extremos porque tem um significado especial para os países do lado de baixo do Equador. Por disputar contra Estados Unidos e Cuba, principalmente – nem sempre com seus principais atletas –, o evento é parâmetro técnico na fase pré-olímpica. Porém, comparado ao ranking mundial das várias modalidades ou confrontado com marcas e tempos de eventos internacionais, o Pan ainda é inexpressivo no circuito maior do esporte.
Memória
E lá se foram quatro anos dos Jogos do Rio de Janeiro, cuja lembrança nos remete mais para os exageros financeiros e desperdícios de patrimônio do que para o legado prometido, mas ainda escondido. Pior: dados oficiais do Governo Federal indicam que o Ministério do Esporte ainda deve daquela festança fatura de R$ 36 milhões.
Jogos à parte, a organização do Pan foi um festival de irregularidades, atribuídas à inexperiência dos gestores públicos, principalmente. Falta de planejamento, contratos mal feitos e sem licitações, termos aditivos inadequados, obras superfaturadas, enfim, contribuíram para elevar as despesas. Do orçamento original de R$ 400 milhões, a conta pan-americana chegou a R$ 3,6 bilhões, conforme relatórios do Tribunal de Contas da União.
Atentos, os auditores do TCU formaram 36 volumosos processos. Atualmente, uma dezena ainda espera por decisões finais. Nos processos já julgados observou-se forte disposição política de isentar os faltosos e abusados gestores, apesar de grosseiras falhas constatadas. Prazos esgotados – de propósito? – para usar recursos de exceções e desorganização geral foram falhas apontadas pelo Tribunal de Contas da União.
O caso mais rumoroso foi o pagamento de R$ 25 milhões pelo aluguel da Vila Pan-Americana, com sobpreço de 62%. Isso, quando as instalações nem existiam. Além disso, pagou-se por um serviço três anos antes, o que é proibido pela legislação federal. O autor da ousada operação em favor da construtora Agenco, via Comitê Olímpico Brasileiro, foi o então ministro do Esporte, Agnelo Queiroz, hoje governador do Distrito Federal. Ele responde a processo no Ministério Público do Rio de Janeiro.
Diante dessas vergonhas, assim se manifestou o então ministro relator do TCU, Marcos Vinicius: “O Ministério do Esporte, a quem cumpria o papel de principal ator governamental na gestão dos Jogos, foi o maior responsável pelo planejamento precário que permeou o evento. O Estado, o Município e o Comitê Organizador Rio 2007 também são responsáveis”. E haja absolvições de tantas maracutaias. Sob o argumento de que “não havia experiência para orientar os gestores”, todos saíram livres da grande confusão.
Desperdícios
Mas há outros desperdícios, como a falta de uso das instalações, que ficaram praticamente abandonadas. Nenhum grande evento realizou-se no Rio de Janeiro, como prometido. Pior: a falta de políticas públicas, de projetos do governo do Rio de Janeiro e das próprias confederações tornou as instalações ociosas por quatro anos, um ciclo olímpico. Mais recentemente, o Comitê Olímpico Brasileiro ocupou o Parque Maria Lenk, disponibilizando o espaço para a elite do esporte carioca.
O Pan, em resumo, confirmou que há um despreparo crônico em termos de planejamento esportivo, principalmente em nível governamental. Revelou, também, dificuldades nas relações e responsabilidades políticas-partidárias em níveis municipal, estadual e federal. Os interesses partidários eram colocados como prioridade.
Mesmo assim, trágico e comprometedor em sua organização, o Pan 2007 foi força importante para que o Rio de Janeiro conquistasse a sede dos Jogos de 2016. Porém, com péssima previsão, lamentavelmente, pois a organização para a Copa do Mundo de 2014 é o trailer de um filme de desmandos que vimos recentemente.
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