Quem são as vítimas do advogado que teria aplicado golpe das ações em Passo Fundo
Maurício Dal Agnol é procurado pelo FBI e pela Polícia Federal. Ele teria movimentado R$ 100 milhões
Os três perfis diferentes exemplificam como são as 30 mil pessoas que teriam sido vítimas de um suposto esquema de um advogado de Passo Fundo que teria movimentado R$ 100 milhões.
As contas do empresário foram bloqueadas e a preocupação da polícia é que caso novos clientes que teriam sido enganados não apareçam, o dinheiro apreendido possa até retornar ao escritório.
O suposto esquema foi desarticulado na sexta-feira em uma operação da Polícia Federal no escritório de advocacia de Maurício Dal Agnol. Desde a década de 1990, ele se especializou em ações contra a antiga Companhia Riograndense de Telefonia (CRT).
A suspeita da PF (que cumpriu mandado na luxuosa casa do suspeito, com direito a boate no seu interior) é de que ele repassaria apenas um valor irrisório aos clientes das ações ganhas. A motivação veio após várias denúncias contra o advogado em que os clientes, representados por novos defensores, argumentavam merecer mais do que haviam ganho.
Foi o caso de Edegar Teixeira de Almeida, 67 anos, morador da Vila Victor Issler, vendedor de cachorro-quente que recebeu R$ 18 mil, mas que deveria ter ganhado R$ 206 mil.
- Minha nora é recepcionista e foi trabalhar na festa de 15 anos da filha dele (Dal Agnol). Ganhou R$ 80 para ficar a noite lá, enquanto só de decoração foram gastos R$ 300 mil. Pensei: não dá meu dinheiro e ainda usa pra fazer festa? - desabafa Almeida.
Então ele entrou na Justiça e conseguiu ganhar outros R$ 46 mil.
- Poderia já ter terminado minha casa. Mas aqui estou, esperando o resto, fazendo aos poucos - diz, em meio à reforma que dura mais de 15 anos.
Ele conta que recebeu uma ligação do próprio Dal Agnol em 1997, falando que ele teria direito a receber dinheiro da antiga CRT.
"Não temos como investigar 60 mil ações", diz delegado
Em 2005, o atual presidente do Sindicato das Indústrias de Material Plástico do Estado, Edilson Luiz Deitos, também teria virado cliente e vítima:
- Ele (Dal Agnol) fazia contato com empresas de contabilidade que, na boa-fé, ofereceram o serviço e nós, na boa-fé, aceitamos. Chegava dinheiro de tempos em tempos, com prestação de contas e tudo, mas só fomos nos dar conta que era um valor incorreto quando fomos procurados por um advogado de fora - conta o empresário.
Já no caso de Carmelina Helena Comin, que deu origem ao nome da operação da PF, o dinheiro chegou tarde.
- Nos disseram: daqui uns oito anos chega o dinheiro. Passava lá duas vezes por ano, especialmente quando minha mulher adoeceu porque teria ajudado muito. Mas ele (Dal Agnol) sempre dizia: ainda não chegou - lembra-se o marido José Bianchin Gheno, 70 anos.
Na verdade, segundo a PF, enquanto Carmelina lutava contra um câncer, a ação foi ganha e o dinheiro teria sido recebido pelo advogado em 2010. A verba só chegou depois de Gheno contratar um advogado novo e receber R$ 124 mil em 2013, um ano após a morte da companheira.
O risco, agora, segundo o delegado Mário Vieira Soares de Morais, é que o montante bloqueado da conta de Dal Agnol retorne ao escritório.
- Não temos como investigar as 60 mil ações cíveis que o escritório dele já moveu — explica o delegado.
A PF orienta que se a pessoa suspeite ter sido vítima, o ideal é pedir que o processo seja desarquivado e revisto.
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